Já pro abatedouro!

Por Eduardo Souza Lima
É evidente que o mal já existia antes de "Tropa de elite" cair no gosto do público, mas também é inegável que o filme gerou indesejáveis - ao menos para aquelas que realmente deveriam ser consideradas pessoas de bem - efeitos colaterais. O mais grave, sem dúvida, foi a política de segurança pública populista, irresponsável e covarde adotada pelo governo do estado do Rio de Janeiro. O Capitão Nascimento diz que a culpa é exclusivamente dos traficantes, dos maus policiais e dos usuários de drogas da classe média. Cada um pensa o que quiser, é claro. O povão quer circo e o governador e o seu secretário de segurança se apoderam do discurso do personagem e mandam bala no morro - se é uma guerra, por que se preocupar com eventuais inocentes pegos no fogo cruzado? - e prendem jovens da Zona Sul - que podem ter cometido atos ilícitos, podem ser engrenagens de uma máquina cruel, mas, evidentemente, não representam perigo algum à sociedade. A grande imprensa chuta a responsabilidade e o bom senso pros quintos dos infernos e pega carona na onda de vileza em busca de audiência, leitores e, principalmente, anunciantes. Primeiro, a Globo toma emprestada a estética do filme de José Padilha e apresenta, com indisfarçável orgulho, cenas espetaculares de dois jovens sendo mortos, como ratos encurralados, por tiros disparados de um helicóptero - Hollywood não faria melhor. Hoje, "O Globo" e o "Jornal do Brasil" dão em suas primeiras páginas fotos de uma jovem de classe média presa ontem, com as manchetas "A bela do tráfico" e "A musa do ectasy", e nada mais. Nem um pingo de informação ou reflexão. "O Globo" ainda tem o requinte de estampar uma foto da menina de 18 anos com o dedinho na boca. Muito provavelmente, amanhã ela será procurada pela "Playboy". Enquanto isso, os auto-intitulados "homens de bem", comemoram bebendo o seu uisquinho escocês - ou a sua cachaça mesmo - em algum festim com prostitutas menores de idades. Isso não é cinema.
O diretor José Padilha, é claro, não tem nada a ver com isso. Mas, cidadão responsável que é, poderia usar do mesmo empenho que teve para rebater as críticas ao seu filme para manifestar o seu repúdio a esse estado de coisas. Uma voz forte e sensata cairia bem.
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