Revista Zé Pereira
Compre Aqui
Embarque
Marcha dos CineclubesO Caos Anda Sobre RodasHitler no LeblonO Caminho de Santa Teresa

terça-feira, 31 de julho de 2007

O Bonequinho Vil contra o cinema de invenção


Gabriela Campos


O bonequinho dormiu para o filme “Conceição – Autor bom é autor morto”. Boneco tolo, de rabo preso, que aplaude de pé o cinema preguiçoso e burocrático. Brinquedinho manipulado por mentes de jovens e envelhecidas pelo mal do comodismo. Isso não seria digno de atenção, senão fosse pelo fato do boneco manipulável (como todo boneco) ser decisivo na manipulação do grande público (transformado em boneco) do cinema nacional.
Falemos então por nós mesmos, sem camuflagem. Eu aplaudo “Conceição” de pé. Sou a dona desse ato. Pela liberdade, pelo desconforto, pela reinvenção da possibilidade de fazer cinema independente de fato, em oposição ao “cinema de investidor”, que tenta podar as asas de um cinema livre e autoral, e muitas vezes consegue.
“Conceição” é o primeiro longa-metragem de ficção realizado em uma escola de cinema no Brasil. Foi criado por estudantes da Universidade Federal Fluminense, principal pólo de produção cinematográfica do Brasil quando o cinema nacional foi posto na geladeira durante a era Collor. Recebendo apoio da universidade e do CTAv, e nada mais além disso, o filme pode ser considerado uma produção independente resultado de investimentos pessoais – toda a mão de obra e custos – de um grupo de estudantes que não está interessado em contar historinhas. Reflexão e participação são as propostas. O público deve participar do filme, e antes de tudo, ter consciência de que é um filme. Identificação com o personagem, coerência narrativa, e comoção barata são colocados em cheque num filme que tem a lógica da desconstrução e da metalinguagem. Sem bandeiras, “Conceição” faz risíveis as estruturas fixas de se fazer cinema, tão levadas a sério por bonequinhos, viciados em “soluções” e “enredos”. Cinema não é escola de samba.
Assistir a “Conceição” é um ato de conexão não só com cinema jovem, mas também com a manifestação artística autenticamente jovem. “Conceição” é um filme jovem, e será sempre. Não apenas por serem jovens realizadores, mas pelo frescor inusitado que é mostrado na tela. É um cinema que se arrisca, que ousa, de um tipo que não encontramos recentemente no cinema nacional, com raríssimas exceções. Por que desencorajar os espectadores a se confrontarem com uma outra forma de fazer cinema do que a que é vista diariamente? Só posso acreditar na caretice e no rabo preso da crítica cinematográfica dos jornais do Rio de Janeiro.
Que olhar crítico é esse, que a princípio deveria refletir sobre o cinema, que não se entusiasma com a novidade e não se posiciona como incentivador de iniciativas como esta? Como a crítica se aliena do cenário artístico atual sem perceber que “Conceição” é, sim, um trabalho artístico de grande importância neste contexto, e por esse simples fato não pode ser descartado desta maneira preguiçosa? São críticos de cinema contra o cinema. De maneira alguma é proibido não gostar do filme, isso não é uma ditadura do bom gosto. Mas aceito argumentos um pouco mais elaborados que “piadinha de cineasta” ou “narrativa desconstruída demais”.
Não vejamos Buñuel, nem o cinema-poesia de Maya Daren, muito menos o Cinema Marginal! Viva Hollywood e suas histórias bem solucionadas, com narrativas de encadeamento perfeito, onde tudo se justifica e se compreende, que reforçam a postura do espectador passivo e abobalhado diante do realismo artificial apresentado na tela. Viva a preguiça!

Foto de Lucas Van de Beuque

Marcadores:

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Pretendo ver o filme, até porque foi elogiado por gente que admiro.

Mas já fiz um cartum sobre essa mania de diretor de não aceitar crítica como homem: http://www.gardenal.org/mauhumor/2006/12/directors_cut.html

Chega de uiuiui. Esse negócio de "apoiar a iniciativa" é coisa pra ONG. Pratique o estoicismo, Gabriela.

31 de julho de 2007 às 12:07  
Blogger casa de coisas disse...

"Apoiar a iniciativa" é uma expressão sua, não está no meu texto. Falo da possibilidade de se entusiasmar diante da novidade.

Não sei se os diretores estão ofendidos com a crítica, não sou diretora do filme. Esta também é uma conclusão tirada por você. Mas eu certamente estaria se recebesse uma crítica preguiçosa de alguém que parece que está lá pra bater seu ponto.

1 de agosto de 2007 às 15:10  
Anonymous Anônimo disse...

Bem, foi o que sua crítica da crítica deu a entender, pelo tom.

Não achei a crítica preguiçosa (antes pequena, mas isso é uma questão editorial), pelo contrário, fugiu ao tom condescendente que geralmente se usa quando diante da estréia de um diretor (no caso diretores) nacional.

Quem reduziu a questão foi vc, ao transformar a discussão em um embate cinemão X autores "fora do esquema".

1 de agosto de 2007 às 16:39  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial