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terça-feira, 7 de agosto de 2007

Meu encontro com Antonioni


Antonioni não gostou de me conhecer, e eu não o culpo. Nosso encontro aconteceu em 1994, e eu rogo aos Céus que ele o tenha esquecido - isso por mera autocomplacência, pois, com certeza, ele o esqueceu. O mestre italiano na época estava com 82 anos e já não falava. As entrevistas eram feitas por intermédio de sua mulher, Enrica. O casal veio para o Rio depois de passar pelo Festival de Gramado. Eram os tempos do jornalismo jeca - não que isso tenho mudado muito -, nos quais até os jornais ditos sérios botavam seus repórteres para fazer plantão em porta de hotel para flagar um tchauzinho da Madonna. E os editores me puseram na cola do diretor, como se fora ele um popstar. Minha missão, além de seguir os passos do pobre coitado, onde quer que ele fosse, era a de conseguir uma entrevista exclusiva - tarefa que se mostrou impossível logo de cara, pois ele já havia prometido falar com o grande Hugo Sukman, do jornal rival, que o tinha conhecido na Serra Gaúcha. Segui-o por toda parte - lembro-me que viu uma exposição de Iberê Camargo no CCBB e parece ter gostado. Logo ele começou a demonstrar sua insatisfação com tão incômoda sombra. Queria lhe dizer que não estava ali por vontade própria, mas faria diferença? O pior aconteceu na hora do almoço. A comitiva do cineasta parou no Albamar e eu estacionei na mesa ao lado. Finalmente - creio que por piedade - a mulher dele acenou para mim, para que eu me aproximasse. E a desgraça aconteceu: estabanado, derrubei uma taça de vinho em sua camisa branca quando fui cumprimentá-lo. Jamais esquecerei o seu olhar de ódio - dizem que em Ferrara isso dá o maior azar. Fui embora. No dia seguinte, o jornal rival publicou uma foto de Antonioni dormindo durante um show de mulatas. Meu encontro com o cineasta do silêncio terminou com um estrondoso esporro de meus editores.

Eduardo Souza Lima

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7 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Muito bom, Zé!

7 de agosto de 2007 às 14:17  
Anonymous Anônimo disse...

Sensacional! Sei que isso é ofender a sua inteligência, Zé, mas compara o teu relato com o do Jabor sobre o encontro dele com o Antonioni...

7 de agosto de 2007 às 14:49  
Anonymous Anônimo disse...

Pô, mas para isso eu teria que ler a coluna do Jabor! Já cumpri a mina pena.

7 de agosto de 2007 às 14:59  
Anonymous Anônimo disse...

Azar em Ferrara!!! Isso é maldição eterna!! Ele deve ter se lembrado de você até o último suspiro.
Particularmente, gostei da menção ao plantão da Madonna. A gente cobria com ficha telefônica (!!!), enquanto nossos concorrentes tiravam onda com tijolões da Motorola. Isso lá pelos idos de 1910.
Zé, a revista tá ótima!!
Parabéns a vocês!
Beijos
Angélica Brum

7 de agosto de 2007 às 18:43  
Blogger Cristiana Soares disse...

Muito bom. Zé, se as coisas não acontecessem dessa forma, vc não seria o Zé brilhante que é. Amei essa história.

7 de agosto de 2007 às 22:30  
Blogger Toinho Castro disse...

quantas pessoas derrubaram vinho no antonioni? você devia se orgulhar.

quanto a mim conheci antonioni pelos seus belos filmes... o primeiro foi justamente esse da foto que ilustra o post, zabriskie point. belíssimo.

mas um que me marcou foi "a noite", que vi numa antiga cópia vhs da... globo filmes!!!

9 de agosto de 2007 às 12:15  
Anonymous Anônimo disse...

Muito bom :]

12 de agosto de 2007 às 12:35  

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