Pirataria e cinema brasileiro
Em artigo publicado no jornal "O Globo", o diretor José Padilha expressa sua indignação por ver seu filme "Tropa de elite" ser vendido de forma ilegal em camelôs. Segundo ele, as pessoas que compraram o DVD pirata do filme estão o assistindo de maneira inapropriada, já que a mesma foi feita a partir de uma cópia inacabada. Isso torna mais do que compreensível sua frustração enquanto artista. Entretanto, incorreções em seu texto impedem uma maior reflexão sobre o tema. Padilha reclama com toda razão da inépcia e da cumplicidade da polícia — que não tem inibido como deveria uma prática que, afinal de contas, é ilegal. Erra, porém, ao cobrar do governo apenas mais eficácia na repressão a este tipo de crime. O governo precisa fazer muito mais. Já de quem comprou o DVD pirata de "Tropa de elite", ele jamais deveria culpar.
Padilha diz que quem compra DVD pirata está prejudicando pais de família que vivem da atividade cinematográfica no Brasil. Não é bem assim: graças à política cultural de incentivo fiscal vigente, os filmes já chegam pagos aos cinemas e os profissionais que nele trabalham são previamente remunerados. Ademais, um filme que custou R$ 10,5 milhões dificilmente se pagará apenas com o dinheiro arrecadado nas bilheterias dos cinemas do Brasil — certamente não dará lucro algum. O diretor fala de indústria cinematográfica brasileira, termo que não passa de peça de ficção. Que indústria é essa que é totalmente dependente do dinheiro público? Se um filme é feito com dinheiro de impostos — que poderia ser revertido para educação, saúde e segurança, por exemplo — ele não é só do seu produtor, pertence também a qualquer cidadão — que, ao menos em teoria, tem direito a educação saúde e segurança públicas gratuitas. Por causa de "Tropa de elite", ele foi obrigado a abdicar de, digamos, uma caixa de giz e um pacote de esparadrapo. Se não teve direito de escolha, que ao menos tenha o de usufruir da obra pela qual pagou. Como artista consciente — com certeza o diretor de "Ônibus 174" e produtor de "Os carvoeiros" o é — Padilha deveria cobrar do governo políticas para fazer com que qualquer cidadão tenha acesso ao seu filme. Se "Tropa de elite" é um sucesso de vendas no comércio informal é porque existe demanda. Mas, como se sabe, há muito o cinema deixou de ser um bem cultural ou de lazer acessível às classes menos favorecidas. Pobre não entra na ilegalidade por gosto. Na verdade, dadas as circunstâncias, Padilha deveria ver no pirata um aliado.
Marcadores: Cinema
13 Comentários:
Disse tudo. E de qq forma esse choro é pq é filme nacional. Qq blockbuster gringo pode ser visto meses antes da estréia nos camelôs.
E os produtores americanos é que têm razão de sobra para reclamar. Lá eles têm que investir o se dinheirinho, não tem essa moleza de fundo perdido não.
mandou bem, vovô! Reclamar de barriga cheia é fácil, não?
Os produtores americanos não têm que reclamar de nada. Ou melhor, vai ser maneiro se eles reclamarem, porque produtor e distribuidor de filme americano tem uma coisa a mais que os outros: tem mais é que tomar no...
Pirataria de filme gringo já! vamos quebrar aqueles merdas. Blockbuster, só se for comprado do companheiro camelô.
A campanha é simples: você quer ver o Homem-aranha? seja patriota e pão-duro - compre num camelô mais perto de você.
oi zé, bacana essa discussão.
vou postar link pra ela lá no migrante.
passe lá pra ver ana silvia abalando corações.
bjs
www.migranteblogspot.com
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Já disse na Panela: essa divulgação do Tropa de Elite antes que ele passe no cinema só vai fazer bem ao filme. O produtor/diretor ainda vai ter que agradecer aos piratas...
Ele sabe disso e já entrou no jogo.
Zé José. O único. Impossível de piratear. E se um dia alguém conseguir essa façanha, em nome dos desafortunados, ele vai consentir! Tô contigo, Zé!!
A saber: "Tropa de Elite foi produzido, boa parte dele, com dinheiro da co=produção com os americanos.
Nessa altura do campeonato, com o filme estreando no dia 12 de outubro - e pré-estréia dia 12 de setenbro na abertura do Festival do RJ - admitir com mais naturalidade esse vazamento.
O texto bom, mas alguns críticos do cinema brasileiro deveriam parar com essa comiseração de que "se um filme é feito com dinheiro de impostos — que poderia ser revertido para educação, saúde e segurança, por exemplo — ele não é só do seu produtor, pertence também a qualquer cidadão".
Isso é pura balela esquerdista.
Não é surpresa alguma ler um texto como esse, muito menos os comentários, sem qualquer polimento. Esse é o pensamento que se perpetua, infelizmente.
Só me resta perguntar uma coisa: quem financia o mercado informal de dvd pirata, o trabalho que ganha um salário mínimo ou aquele mais afortunado que não pode esperar pelo filme e só pensa em tirar vantagem? Passar o governo ou quem é financiado pelo governo para trás é passar a si próprio. O trabalhador que ganha um salário mínimo não tem tempo (e, se tiver, não tem dinheiro) para ter ver um filme.
Não é uma questão de culpar ambulantes. É uma questão de tentar mudar a sociedade por vias próprias, mudando de postura. A maioria que financia esse mercado é capaz de escolher, de optar por uma postura diferente.
Sou de Sampa, assisti o filme umas 2x. Creio que a sociedade já está caleijada sobre o assunto. Mas o que se pode fazer? Uma sociedade preguiçosa, onde predomina o consumismo e a falta do que fazer. As pessoas deste país infelizmente não se queixa da enxaqueca moral que as circulam. Apenas pequenos grupos que se interessam pelo país, lutam e ainda são reprimidas pelo "sistema" (objetivo final do filme "Tropa de Elite"), que é sem dúvida uma martelada sem dó na cabeça daqueles corruptos. É só assim mesmo para mostrar que existe autores que não temem os efeitos colaterais de mostrar uma realidade crua e cruel.
Coisas que acontecem e que dão mais medo na realidade do que na ficção científica.
Valeu José Padilha! Muito sucesso e da próxima vez, faça um longa baseado no cotidiano da ROTA que uma das ótimas corporações daqui de Sampa, acredito que os mesmos ficarão lislongeados!!!
Dalucius@gmail.com
O diretor do filme foi um COVARDE na hora da edição final. "Tirou o pé" na hora de manter as críticas mais contundentes contra o tráfico, como, no início do filme, quando trocou a letra da música do "baile funk", bem como quando atacava o Estado, enquanto ente federativo, que joga deliberadamente as polícias militares para uma condição de miserabilidade institucional e pessoal de seus integrantes, com salários ridículos. Talvez a "visão social" lhe tenha embaralhado os olhos.
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