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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A circulação de Jodo no Brasil


Por Estevão Garcia

Eu ainda não fiz uma pesquisa mais detida sobre a distribuição da obra cinematográfica de Jodorowsky no Brasil, mas segundo informações do pesquisador Hernani Heffner, que fez esse levantamento e inclusive escreveu sobre o assunto no catálogo da mostra, ela foi praticamente nula. Hernani afirma que tanto nos canais tradicionais de circulação de bens culturais (o mercado exibidor) quanto no chamado circuito "alternativo", Jodorowsky a rigor não existiu. Se pensarmos no Jodorowsky quadrinista a difusão foi um pouco diferente. Em 1987 a editora Martins Fontes lançou a graphic novel "Os olhos do gato" (1978) para um público bastante específico. Jodo a partir de então se tornou um nome conhecido entre os fãs brasileiros de HQs. "Olhos do gato" só foi publicado no Brasil após nove anos de seu lançamento francês, o que atesta que até em relação à arte em que Jodo é mais conhecido no país, nós estamos atrasados. A informação de que o parceiro do grande desenhista Moebius era também cineasta despertou nos fãs de suas HQs a curiosidade de travar contato com os seus filmes. Mas, como isso poderia ser feito? Ao brasileiro que nos anos 80/90 queria assistir a algum filme do Jodorowsky, era viável apenas a atitude de acender uma vela e rezar para que um dia eles aportassem por aqui.

Não havia meios de acesso ao cinema de Jodorowsky. O seu único filme que foi exibido no Brasil mais ou menos na mesma época de sua estréia "mundial" foi o "Santa sangre" (México/Itália, 1989). Esse filme passou por aqui no Fest-Rio de 1990 dentro de uma mostra paralela dedicada ao cinema experimental. Nela tinha um segmento focado no cinema experimental latino-americano e, ao lado do cineasta brasileiro Artur Omar e do venezuelano Diego Ríquez, estava lá Alejandro Jodorowsky com o seu mais novo filme. Nesse mesmo ano, "Santa sangre" foi projetado na Mostra Internacional de São Paulo, tendo parca repercussão na imprensa. Portanto, na época de lançamento de seus três primeiros filmes: "Fando y Liz", em 1967, "El Topo", em 1969, e "La Montaña Sagrada" (foto), em 1973, o Brasil ficou completamente de fora. Isso prova que nesse período nem a crítica e nem os realizadores brasileiros tomaram conhecimento da obra de Jodo. Há, sim, depoimentos de amigos de Glauber que contam que no inicio dos anos 70 ele teria visto "El Topo" em Nova York e ficado maravilhado. Porém, mesmo que verdadeiras, isso são apenas histórias. Não há um documento escrito, um artigo ou um ensaio de Glauber que as comprove concretamente.

Após o Brasil ter ficado tanto tempo longe da possibilidade de interagir com a filmografia de Jodo, acontece nos anos 2000 uma revolução: a opção de baixar filmes pela internet. Ficou sendo possível através de programas como o Emule, baixar todos os filmes de Jodorowsky. Os jovens que hoje celebram a sua obra só puderam conhecê-la através da internet. Não podemos deixar de mencionar que quando saiu na Europa no final dos anos 90 uma primeira edição dos dois primeiros filmes de Jodo, o Julio da Polyteama os comprou e os disponibilizou em sua locadora. Porém, nessa época, a Polyteama já era uma locadora restrita a poucos associados. As locações eram solicitadas por telefone e o próprio Julio as entregava na casa de seus clientes. Para você se associar era necessário que você fosse indicado por algum sócio. Então, o acesso ainda estava concentrado em alguns poucos eleitos escolhidos a dedo. Mesmo que nessa ocasião os filmes de Jodo tivessem sido disponibilizados por uma locadora que qualquer um podia se tornar sócio, o seu grau de difusão ainda assim seria limitado. Uma locadora especializada como a locadora do Estação ou a Cavídeo por exemplo, abastecem somente ao público interessado do Rio de Janeiro, mas especificamente da Zona Sul. Agora, com a internet, é possível ter acesso aos filmes de Jodo no Acre, no Ceará, no Amapá, em Tocantins, em suma, em qualquer ponto do Brasil. A internet e o Festival do Rio do ano passado foram sem dúvida, os propiciadores da "redescoberta" de Jodorowsky.

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