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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Copacabana sem figuração


Por Estevão Garcia

A revista Zé Pereira visitou o set de filmagem de "Elvis e Madona", primeiro longa-metragem do curta-metragista Marcelo Laffitte (na foto acima, com a atriz Simone Spoladore). O filme nos conta a história de amor entre uma jovem lésbica e um travesti experiente. Ela, trabalha como motogirl de uma pizzaria, mas sonha em ser foto jornalista. Ele, ganha a vida como cabeleireira em um salão de beleza, mas sonha em ser um grande artista. Ambos vivem e trabalham em Copacabana, bairro-símbolo do Rio de Janeiro, que já serviu de palco e cenário para muitos filmes brasileiros. "Copacabana me engana" (de Antonio Carlos da Fontoura), "Copacabana mon amour" (de Rogério Sganzerla, 1970) e "Fulaninha" (de Davi Neves, 1986) são alguns exemplos. Se converter Copacabana em fotogramas não é nenhuma novidade em nosso cinema, a maneira com que "Elvis e Madona" registra o famoso bairro é, segundo Laffitte, um grande diferencial.
— Eu estou pegando uma câmera, botando ela no ombro e entrando em Copacabana. Os meus planos têm muitos carros, tem muita gente, a vida de Copacabana está toda ali.
Segundo o diretor, natural de Volta Redonda, o seu olhar sobre o bairro é essencialmente externo:
— Vir ao Rio de Janeiro era pra mim sempre motivo de festa.
O deslumbramento que sentia ao visitar o Rio na infância era propiciado principalmente pelo visual das praias de Copacabana. Depois com o passar dos anos, o foco de seu interesse mudou. Já não era mais as belezas naturais do Rio que o motivavam a pegar um ônibus em Volta Redonda e, sim, o cinema.
— Me lembro que um dia fui ao Rio só para assistir ao "Apocalipse now" e vi quatro sessões seguidas.
Voltando ao Rio, anos mais tarde para estudar, acabou indo morar em Copacabana. Mesmo tendo conhecido e vivenciado o cotidiano do bairro, Laffitte ainda se pergunta:
— O que é Copacabana? São os porteiros da Paraíba, são os camelôs que moram no morro, são os bombeiros, mecânicos, eletricistas que moram no subúrbio. Copacabana é o tempo todo inchada de gente, é um universo, tem de tudo ali e eu sou parte desse universo.
Compreendendo que Copacabana é em sua grande maioria feito e sentido por pessoas de fora, que não nasceram ou cresceram lá e até mesmo por gente que nem mora, mas que vai ao bairro todo dia para trabalhar, Laffitte não vê muita diferença entre um olhar externo ou interno. Copacabana segundo seu ponto de vista é de todos, sem discriminação. Ao assistir o material bruto do que já filmou do bairro, Laffitte afirma:
— Me desculpem aqui os meus amigos diretores que já filmaram em Copacabana, mas eu estou conseguindo até então os melhores resultados que eu já vi.
Para ele, o medo compartilhado por grande parte dos realizadores de entrar em Copacabana seria o principal motivo para a maneira pouco criativa com que o bairro é registrado:
— Você assiste a um filme todo rodado em Copacabana e percebe que nas ruas não tem gente. A produção mandou fechar o campo e só colocou dois figurantes.
Se para o diretor o cinema brasileiro praticamente filma Copacabana da mesma forma, a TV Globo pelo menos prestou um serviço aos cineastas ao gravar as suas telenovelas por lá.
— Agora você filma em Copacabana e ninguém liga. As pessoas falam "ah é novela!" e vão embora. Ninguém para mais para ver as filmagens.
A diferença no retrato de Copacabana não é a única originalidade de "Elvis e Madona" defendida pelos envolvidos no projeto. Igor Cotrim, o ator que interpreta o travesti Madona sublinha o fato de que no cinema brasileiro raramente encontramos um travesti como personagem protagonista.
— Geralmente nos filmes os travestis aparecem mais para alívio cômico, ou em uma cena isolada que nem no "Carandiru" (de Hector Babenco, 2003) que é só pra ilustrar como é difícil a situação do lugar ou então para ser o assassino ou para morrer, ou para os dois juntos.
Perguntado sobre o contexto em que seu personagem está inserido, Cotrin diz que diferentemente de "Rainha Diaba" (de Antonio Carlos da Fontoura, 1974) ou "Madame Satã" ( de Karim Aïnouz, 2002), onde o enfoque cai no submundo, "Elvis e Madona" é um filme muito mais leve.
— O filme é uma comédia romântica, mas também tem seus momentos barra pesada. Tipo, o cafetão no começo do filme espanca a Madona e rouba todo o dinheiro que ela tinha.
Como Cotrim, a atriz Simone Spoladore, que interpreta a Elvis, também parece estar bem afinada à proposta de Laffitte. Para os três, o maior desafio do filme é fazer com que a história de amor entre uma lésbica e um travesti seja crível para o espectador.
— É a partir dessa preocupação que se construiu todo o processo de composição do meu personagem — diz Cotrim.
Já Simone Spoladore conta que o fato de ter assistido a vários filmes do Elvis Presley a ajudou bastante. O estudo da forma de interpretação do ator/cantor ídolo de seu personagem a fez chegar ao tom ideal. Para a atriz, a característica principal de Presley é exatamente o seu lado doce, meigo e feminino. Analisando a porção feminina de um homem másculo e viril, a atriz encontrou o caminho para matizar as posturas e os movimentos da lésbica Elvis. Fugir do estereótipo e da caricatura na composição dos personagens se tornou um objetivo fundamental e o pré-requisito básico para a construção da veracidade dessa história de amor.
— Tem o lado extravagante, exagerado e debochado que não pode deixar de ter porque isso é uma marca do universo dos travestis, mas toda essa parte exagerada tem que casar com a descoberta do amor realizada entre os dois protagonistas — diz Cotrim.

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2 Comentários:

Blogger Dr. Banner disse...

Desejo sorte ao filme e o telefone da Simone.

13 de novembro de 2007 às 15:02  
Blogger Revista Zé Pereira disse...

Sê bem-vindo, Dr. Banner.

13 de novembro de 2007 às 15:49  

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