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segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A gravata do Jodo


Por Estevão Garcia

Ver "A gravata" (de Alejandro Jodorowsky, França, 1957) é acima de tudo uma experiência curiosa. Digo curiosa porque além de ter os seus méritos, o curta-metragem é um excelente registro de uma determinada fase da trajetória do artista. Em 1953 Jodo deixou o Chile e entrou em um navio rumo à França especialmente para estudar com o famoso mímico Marcel Marceau. Sem sequer saber falar uma palavra de francês e com apenas algumas notas de dólares no bolso, Jodo embarcou nessa aventura motivado pelo sonho de ser como Marceau, um grande mestre da pantomima. Depois de comer o pão que o diabo amassou nas ruas de Paris e de ter trabalhando em todos os empregos possíveis, o jovem Jodo finalmente conseguiu juntar o dinheiro suficiente para estudar com o importante mímico. Infelizmente a pantomima não é que nem o cinema, portanto apenas os que estavam em Paris ao longo da década de 50 puderam assistir ao vivo o trabalho de Jodorowsky com Marceau. A nós, que não somos franceses e que não vivemos àquela época, resta apenas ver "A gravata". Aqui podemos conferir o Jodorowsky mímico. Tudo o que ele aprendeu com Marceau, ele coloca nesse interessante curta-metragem.

Certamente para a maior parte das pessoas que o assistiram nos últimos dias no CCBB, ele parecerá meio fora de lugar na filmografia de Jodorowsky. De fato a diferença entre "A gravata" e "Fando y Liz" é tremenda. Jodo no intervalo de dez anos que os separa vai da pantomima diretamente à vanguarda. Marcel Marceau sai um pouco de cena e entram Fernando Arrabal e Roland Topor. A expressão do Movimento Pânico estava estão em seu auge e às brincadeiras lúdicas presentes em "A gravata" foram acrescentados três elementos básicos: terror, humor e simultaneidade. Porém, é possível fazer relações entre esse curta e os demais filmes do autor. Afinal, se a pantomima é uma arte em que o corpo assume o papel principal, o corpo continuou sendo fundamental em sua filmografia. Até hoje, Jodorowsky ao falar de seus filmes afirma que se outros diretores filmam com os olhos, ele, filma com os testículos. Certa vez perguntaram o que ele achava de Godard. Jodo então responde: "Godard não tem nada haver com o meu cinema. Ele é um grande intelectual, eu não. Godard tem apenas um testículo, eu tenho três: intelecto, emoção e libido". Logo, constatamos que o cinema de Jodorowsky é essencialmente um cinema corporal. Mais do que interagir com o espectador pelo intermédio da razão, Jodo o agarra pelo instinto.

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