Revista Zé Pereira
Compre Aqui
Embarque
Marcha dos CineclubesO Caos Anda Sobre RodasHitler no LeblonO Caminho de Santa Teresa

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Jodo e a constelação



Por Estevão Garcia

Louis Mouchet em seu documentário "A constelação Jodorowsky" parte da evidência de que Alejandro Jodorowsky é um artista múltiplo. Tal constatação reforça a idéia de que qualquer filme que almejar entrar no mundo criativo de Jodorowsky precisará fazê-lo de maneira ampla. Ou seja, um documentário sobre Jodorowsky necessariamente deverá abranger todas as suas áreas de atuação: pantomima, teatro, cinema, quadrinhos, tarô e psicologia. O universo de Jodorowsky é um só e ele é composto por todas essas formas de expressão. Fazer um documentário apenas sobre o Jodorowsky cineasta ou o Jodorowsky quadrinista seria algo inviável por ser uma atitude extremamente redutora e incompleta. O próprio título do filme sugere o caráter multifacetado do artista. Jodorowsky não seria um astro e sim uma constelação formada por várias peças brilhantes que representariam justamente cada uma de suas diversas ferramentas artísticas.

"A constelação Jodorowsky" opta por seguir uma ordem cronológica em relação às áreas de atuação de Jodo, da pantomima a psicomagia. O documentário se centraliza em uma longa entrevista realizada no escritório de Jodorowsky e a sua fala é entremeada por depoimentos de seus companheiros de trabalho (Marcel Marceau, Fernando Arrabal, Moebius), por trechos de seus filmes e materiais de arquivo do Teatro Pânico. O entrevistador faz as suas perguntas dividindo-as em blocos temáticos. Mouchet quer saber sobre a experiência de Jodo com a sua primeira manifestação artística, a pantomima. Ele pergunta, Jodo responde e corta para o depoimento de Marcel Marceau, o grande mímico francês e mestre de Jodo nessa arte. Esse procedimento padrão se repetirá ao longo do filme. O esquematismo de "A constelação Jodorowsky" é totalmente coerente com que o filme se propõe a ser. Se o objetivo do documentário é ser um convite à obra de Jodo, ele cumpre muito bem essa função. O filme nitidamente se dirige ao espectador que ainda não tem muito conhecimento sobre o artista. O seu público alvo não é os iniciados ou os admiradores da obra multidisciplinar de Jodorowsky. "A constelação" se assume como uma introdução a Jodorowsky.

Mouchet, ao contrário de Stuart Samuels em "Filmes da meia-noite: da margem ao mainstream", não expressa cinematograficamente a sua adesão ao objeto documentado. Mouchet em relação a Jodorowsky é sério, distanciado e discreto. A sua admiração pelo artista não é evidenciada. A sua abordagem é acima de tudo descritiva e não celebrativa. Não encontramos aqui uma coloração de homenagem e sim um anseio prioritariamente informativo. A grande virada se dá quando Mouchet sai de seu anonimato e aparece em quadro. O documentarista estava atrás das camêras , registrando uma comum sessão de psicogenealogia, quando subitamente Jodo interrompe a palestra e o convida para ser o protagonista da terapia em grupo. Claramente essa participação não estava prevista pelo discreto e sóbrio documentarista. Ele então passa a ser analisado pelo terapeuta Jodorowsky. Tomamos conhecimento de seus conflitos íntimos, de seus problemas familiares e de seus traumas. Em uma seqüência posterior, Jodo lê o tarô para Mouchet. O distanciamento inicial de Mouchet se dilui e ele passa a ser de fato, tragado pelo universo de seu personagem biografado. Mais do que se abrir pessoalmente para o seu documentarista, Jodorowsky fez o seu documentarista se abrir.

Marcadores:

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial