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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Jodorowsky contra o Super-Homem sem falo



Por Estevão Garcia

Em sua conferência sobre HQs realizada ontem no CCBB, Jodorowsky começou metendo pau nos quadrinhos americanos e em sua obsessão por super-heróis. Afirmando categoricamente que "os super-heróis americanos são hipócritas", Jodo, para a alegria da platéia, fez uma série de piadas sobre o fato desses heróis terem que ser necessariamente assexuados. Criticou a ausência de falo no Super-Homem: "ele não tem nada entre as pernas, é liso, parece uma boneca". Convencido de que é realmente complicado alguém que se chama Super-Homem não apresentar testículos, Jodo sugere algumas imagens interessantes quando por acaso um dia ele tiver órgãos genitais. Uma delas é a descrição detalhada de uma super-penetração, onde o super-pênis do herói ao entrar na vagina de sua amante sairia pelas suas costelas e depois pelo crânio. Outra especulação relacionada sobre a hipotética colocação de sexualidade, logo, de humanidade nos super-heróis, foi em torno da Supergirl. Jodorowsky quis imaginar como seria o fluxo menstrual da heroína. Ficou claro que em uma vez por mês teríamos uma enchente de sangue em Metrópolis.

Abrigado comodamente pelo mercado europeu de HQs, Jodo não ficou só na crítica aos quadrinhos americanos. Falou um pouco sobre as suas primeiras experiências nas narrativas gráficas, que ao contrário do que muitas pessoas pensam, não se deu com Moebius. Em 1968, devido ao escândalo ocasionado pela exibição de "Fando y Liz", Jodo foi proibido de trabalhar com cinema no México. A sua saída foi pedir um emprego como cartunista para um amigo jornalista que trabalhava no "El Heraldo de México". Começou assim a série "Fábulas Pánicas", que além de roteirizar, Jodo também desenhava. Com um sorriso no rosto, o palestrante afirmou que hoje ele tem vergonha de seus desenhos: "eram muito ruins". Na época ele se julgava um bom desenhista, "mas quando vi Moebius, desisti de desenhar".

Essa declaração de que a sua entrada nos quadrinhos se deu principalmente porque o seu trabalho na área em que queria atuar estava bloqueado, não deixa de ser elucidativa. Jodorowsky deixa subentendido que essa primeira proibição de filmar ocorrida no México no final da década de 60 foi continuada, através de diferentes roupagens, ao longo de sua carreira. Uma dessas roupagens é o sistema de produção industrial. Inserido na engrenagem de uma superprodução ao desenvolver o projeto de "Duna", Jodorowsky mais uma vez, agora devido a problemas com o produtor, foi impedido de filmar. E da mesma forma que o fracasso de "Fando y Liz" o fez ser cartunista de jornal e desenhar as "Fábulas Pánicas", a não realização de "Duna" o fez iniciar com Moebius a série "Incal" e entrar no circuito intercional de HQs. Os quadrinhos, diferentemente do cinema, são para Jodorowsky sinônimo de realização e de viabilidade. Jodo diz: "Tudo o que eu não consegui fazer em cinema, eu fiz em HQs". O autor declara estar muito feliz com o sucesso de seu trabalho como quadrinista, porque além de lhe garantir uma boa fonte de renda, nele é possível criar sem ser obrigado a fazer concessões.

Jodo diz que a HQ é uma "arte industrial", característica que lhe possibilita ganhar bem e viver desse trabalho. Porém o cinema já não é visto dessa forma. Jodo recusa a característica industrial do cinema e ao mesmo tempo em que procura se desvencilhar de um cinema mega-empresarial e infestado de stars, a maioria de suas idéias demanda muita produção. "La montaña sagrada" por exemplo, jamais poderia ter alcançado aquele resultado final se não tivesse tido um forte aparato de produção e um orçamento consideravelmente alto por trás. Talvez por isso as suas idéias encontraram nos quadrinhos uma maior viabilidade de execução. O cinema é uma arte muito mais cara e os seus riscos de prejuízo são bem maiores. Ciente disto, Jodorowsky no final da palestra revelou que vai filmar no ano que vem "Psicomagia", um filme feito justamente para "perder dinheiro". Ele há anos está juntando uma boa soma para poder finalmente realizar um filme sem se preocupar com o lucro. O filme será gratuito e terá a sua estréia na Internet. Se a Internet foi o meio responsável por sua "redescoberta" depois de décadas tendo os seus filmes proibidos de serem vistos pelo produtor Alan Klein, a Internet também será a difusora de seu retorno ao cinema.

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