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quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Místicos e míticos


Por Estevão Garcia

"El Topo" (México, 1969, foto) e "La Montaña sagrada" (México/Eua, 1973) se converteram ao longo da década de 70 em verdadeiros objetos de culto. Tendo sido realizado depois de "Fando y Liz" (México, 1967), "El Topo" sinaliza uma nova guinada na filmografia do autor. Essa nova guinada não exclui as principais influências e a base da formação intelectual de Jodorowsky (surrealismo, teatro do absurdo, happening, Teatro da Crueldade de Antonin Artaud, Luis Buñuel) e sim os amplia absorvendo outras informações. Podemos afirmar que "Fando y Liz" é ainda um filme 100% vanguardista, um autêntico puro-sangue da vanguarda que estabelece pontes tanto com a vanguarda cinematográfica dos anos 20 (Jean Cocteau, os três primeiros filmes de Buñuel) quanto a vanguarda teatral dos anos 50/60 (Eugène Ionesco, Samuel Beckett, Fernando Arrabal). Fernando Arrabal é um nome de extrema importância na trajetória de Jodorowsky porque além ter sido co-fundador do Movimento Pânico, é o autor da peça "Fando et Liz" (1955), que deu origem ao seu primeiro longa-metragem. Essa peça, inclusive, já tinha sido levada aos palcos mexicanos por Jodorowsky causando estrondosas polêmicas. A partir de "El Topo" os elementos reunidos e expressos em "Fando y Liz" se misturam com a psicodelia-místico-pop em um mesmo caldeirão.

O ano era 1969, ano de woodstock, a contracultura estava então em seu auge. Astros do rock and roll como Jimi Henrix e Jim Morris se declaravam místicos. Bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath se direcionavam para o ocultismo e tomavam o mago Aliester Crowley como guru. Os Beatles optam pelo misticismo oriental e realizam nesse momento a sua famosa viagem à Índia. Esses são apenas alguns exemplos de uma extensa lista que atesta a incorporação do misticismo pela cultura de massa na passagem dos anos 60 para os 70. Porém, não é só o universo pop que experimenta nesse período esse "desbunde místico", como também grande parte da intelectualidade mundial. Muitos estudiosos compreendem esse deslocamento para o misticismo como uma resposta ao engajamento político-ideológico da década de 60. A ressaca dos anos 60 teria, segundo eles, provocado essa atitude nos 70. Independente se a onda das ciências ocultas tiver sido ou não uma resposta à militância, o fato é que Jodorowsky sempre trilhou por um caminho oposto ao do "engajamento", pelo menos da forma como ele foi compreendido ao longo dos anos 60. O misticismo presente em "Fando y Liz" e de maneira muito mais acentuada em "El Topo" e "La montaña sagrada" não foi totalmente uma afronta porque Jodorowsky nunca foi e nunca quis ser um "cineasta político".

"El Topo" será exibido hoje em película no Festival Jodorowsky às 17:00 h seguido de debate com Pedro Camargo, Fabian Nuñez e Estevão Garcia. "La montaña Sagrada" passará amanhã, também em película, às 19h.

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