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sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Bate-papo com Alejandro Jodorowsky


Por Estevão Garcia

A Revista Zé Pereira chamou Alejandro Jodorowsky para um breve bate-papo, já que o homem estava bastante atarefado e cheio de compromissos por aqui. A conversa não foi num botequim, uma vez que Jodo (como ele é assim conhecido)já não desfruta mais do prazer de beber, e sim no quarto de seu hotel. Jodo na entrevista que segue aí abaixo nos conta um pouco de sua arte.

Zé Pereira: Como foi a criação do Movimento Pânico?
Alejandro Jodorowsky: Foi um fruto da minha união com o desenhista Roland Topor e o dramaturgo Fernando Arrabal. Nós três tínhamos o mesmo cansaço do surrealismo. Porque o surrealismo, que era o último grande movimento artístico, estava naquela ocasião meio que fora de rumo. Os princípios originais já não eram os mesmos. O grupo surrealista se tornou trotskysta. André Breton tinha se transformado numa espécie de papa que anunciava o que aprovava e o que não gostava.

Zé Pereira: E todos os surrealistas "oficiais" tinham que segui-lo, não?
Alejandro Jodorowsky: Sim, e na verdade ele mais não gostava do que gostava. Breton não gostava de nada. Breton não gostava de ficção científica, não gostava de rock and roll, não gostava de pintura abstrata, não gostava de arte publicitária, não gostava de pornografia. Não gostava nada de cultura pop. Imagino que ele também detestava quadrinhos.

Zé Pereira: Então poderíamos dizer que o Movimento Pânico seria uma espécie de atualização do surrealismo? Uma leitura do surrealismo dentro do contexto dos anos 60?
Alejandro Jodorowsy: O que nós queríamos era buscar algo novo. Fazer um movimento que não fosse um movimento. Criar um movimento que não existe. Resolvemos chamá-lo de pânico, mas, de fato, ele nunca existiu.

Zé Pereira: Seria um anti-movimento artístico?
Alejandro Jodorowsky: Sim. Em tudo o que a gente fazia, a gente colocava a palavra "pânico". Pânico não no sentido de susto e sim oriundo do Deus Pan. Assim, eu sou pânico, ele é pânico, o outro é pânico, havia fábulas pânicas, espetáculos pânicos, atitudes pânicas. E isso ficou. Mas não éramos iguais em nada, éramos diferentes. Foi como uma espécie de falso movimento, e fizemos para provar que a cultura é idiota. Agora, na Itália, saiu um enorme livro sobre o pânico, e o aceitaram e o catalogaram como um movimento, quando na realidade, ele nunca foi.

Zé Pereira: Mas, o Pânico tinha alguns princípios, né?
Alejandro Jodorowsky: Os nossos princípios essenciais eram o humor, a confusão, a dualidade dos extremos, como o bem e o mal, os extremos, a festa...

Zé Pereira: Fale um pouco sobre a relação entre o seu processo de criação no cinema e nos quadrinhos.
Alejandro Jodorowsy: Na verdade, são duas linguagens bem diferentes. Mas, pode acontecer que as idéias que estão sendo trabalhadas por mim em um dado momento, apareçam nas duas atividades. Por exemplo, na época em que eu estava filmando "Santa sangre", elaborei um quadrinho que se chamava "Juan Sozinho". Infelizmente os direitos dessa HQ estão hoje nas mãos dos americanos.

Zé Pereira: E o que essa HQ contava?
Alejandro Jodorowsky: Era sobre um menino que nasceu no meio do lixo. Todos o rechaçavam porque ele era um garoto estranho, ele tinha um enorme rabo. Juan Sozinho, como diz o nome, não tinha ninguém, era um ser isolado que para vencer em seu contexto teria que lutar em dobro. Assim, de pivete na infância, ele se transformou em um poderoso gângster na adolescência. Ele passou a fazer milagres e todos começaram a chamá-lo de santo. Juan Sozinho era um gângster que fazia milagres, um criminoso santo.

Zé Pereira: Até há pouco tempo você era mais conhecido no Brasil por seu trabalho nos quadrinhos. Os seus filmes só se tornaram mais acessíveis agora, graças à internet. Nenhum deles foi exibido aqui comercialmente. Mas, além de quadrinista e cineasta, você também é escritor de romances e poeta. Apenas um romance seu foi publicado no Brasil ("Quando Tereza brigou com Deus") e ainda nada de sua produção poética chegou até nós.
Alejandro Jodorowsky: Pois é, a poesia é um gênero pouco popular no mundo todo. Se você consegue vender 300 exemplares de um livro de poesia, ele já pode ser considerado um best seller. Os quadrinhos não, são o extremo oposto. De uma só vez, é possível vender centenas de HQs. O que eu faço para a minha poesia ser um pouco mais lida, é colocá-la de alguma forma escondida no meio dos meus quadrinhos. Sempre invento algum jeito de meter poesia neles.

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