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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Carta resposta a uma reportagem do "Globo"


Caríssimos companheiros do Campo da Saúde Mental,

todos tivemos o desgosto de ler a matéria publicada em "O GLOBO", no dia 9, intitulada "SEM HOSPÍCIOS MORREM MAIS DOENTES MENTAIS", título que, por si só, já revela integralmente a direção do texto, seus distorcidos e perversos argumentos, seus ardis e sua capacidade de deformação da opinião pública, além do atentado ao direito mais básico da população à informação. (Lembra-me um dos maiores banners do último congresso da ABP, de Porto Alegre, que dizia: "LOUCURA É FECHAR LEITOS PSIQUIÁTRICOS"!)

Penso que é chegada a hora de reunirmos novamente TODAS as nossas forças, nossas armas, nossos recursos, somá-los, articulá-los de modo inteligente e eficaz, colocá-los em ação, a fim de dar uma resposta contundente à onda de ataques reacionários, bem orquestrados, associados ao poder da mídia impressa, dos empresários da doença mental e da indústria de psicofármacos, do capitalismo mais selvagem e conservador, enfim, ataques que vem sendo desferidos contra o movimento democrático, construído coletivamente, legítimo, portanto, que há mais de vinte anos vem mudando a realidade brasileira, fundada estrutural e historicamente na lógica da exclusão (generelizada, e particularizada, no caso em foco, nos doentais mentais que, confinados em hospícios financiados pelo dinheiro público para "viverem" em condições sub-humanas, ficam excluídos de qualquer forma digna de laço social), promovendo, a duras penas, um considerável, significativo e reconhecido internacionalmente nível de inclusão e dignificação da vida de milhões de portadores de doença mental no Brasil.

Os descontentes com essas saudáveis mudanças são poderosos, e a matéria em questão é só mais um de seus instrumentos, entre vários outros. São caçadores de dinheiro, são indivíduos que se comprazem com o "saneamento" da sociedade pelo afastamento radical dos que a incomodam com sua loucura e com outras formas de dissonância em relação ao diapasão hegemônico-dominante. Tudo isso faz parte também de um movimento mais amplo de ataque dos setores mais reacionários da "sociedade" brasileira (setores nada sociais) ao governo Lula e suas políticas de inclusão, políticas que fazem deste governo o que mais fez em toda a História do Brasil para reduzir as escandalosas taxas de exclusão da população, seja pela miséria e pela fome, seja pela total falta de instrução e de saber, seja pelo sofrimento mental grave e persistente. As políticas públicas de saúde mental no Brasil são muito anteriores ao governo Lula, ao Lula como presidente e chefe de governo, mas são inspiradas no mesmo caldo político que o elegeu. Não é à toa que essas políticas públicas estão sendo atacadas vioentamente pelos adeptos do "cansei", que querem de volta seus espúrios privilégios, em detrimento dos indiscutíveis avanços sociais promovidos por essas políticas.

Sem hospícios os doentes mentais morrem mais? Sem hospícios, os doentes mentais têm a possibilidade de viver e de morrer como todo ser humano, pois eles voltam à vida humana e social, saem da condição de mortos-vivos, zumbis que o hospício lhe garantia.

Temos que reunirmo-nos, para além de diferenças que, diante desses adversários economica e politicamente poderosos, tornam-se muito pequenas (diferenças de modos de gestão, de concepções que dividem movimentos de luta e políticas públicas, que separam paredes de instituições universitárias, de saúde pública ou de entidades do terceiro setor). Tudo isso deve ser colocado de lado neste momento, em função de um objetivo político maior, que é de todos nós, que, se exercemos essas diferenças é porque somos mais democráticos que nossos opositores, sempre mais unidos porque totalitários em seu próprio ser e modo de pensar. Mas tem hora que essas diferenças, democraticamente produzidas entre nós, têm que dar lugar à união de forças, sob pena de colocarmos em risco o que construímos e o próprio campo em que, em tempos mais consolidados, exercemos nossas discordâncias.

Faço um apelo a essa união, para que, juntos, possamos pensar melhor, agir melhor, mais eficazmente, mais poderosamente. Quem sabe promovemos uma grande reunião, uma grande assembléia dos trabalhadores de saúde mental, chamamos familiares e usuários que, em sua ampla maioria, apóiam a rede justamente porque se saberm infinitamente melhor tratadas, chamamos a imprensa, a séria e a bandida, enfim, todos os que precisam se unir.

Além disso, é preciso enchermos as caixas de cartas e mensagens de jornalistas, jornais, agentes de informação e de formação de opinião, para que a devastação deste tipo de imprensa poderosa, tendenciosa e mal intencionada seja, senão neutralizada, pelo menos minimizada, na política da redução de danos.

Um grande abraço,
Luciano Elia

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