Revista Zé Pereira
Compre Aqui
Embarque
Marcha dos CineclubesO Caos Anda Sobre RodasHitler no LeblonO Caminho de Santa Teresa

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Olhos da Maré


Por Marina Gonçalves
Fotos de Ratão Diniz


Sucesso da Escola de Fotógrafos Populares, do Observatório de Favelas, mostra um outro olhar sobre a periferia

Há três anos, quando ingressou na Escola de Fotógrafos Populares, do Observatório de Favelas, talvez Ratão Diniz não imaginasse que em tão pouco tempo de profissão teria a oportunidade de conhecer o Nordeste inteiro graças à fotografia. Ou que seria um dos profissionais a mostrarem seus trabalhos na exposição Jogos Visuais (fotos da reportagem), em cartaz na Caixa Cultural, no Centro. Morador do Parque Maré, uma das muitas comunidades do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, ele conheceu a escola de fotógrafos por meio de seu irmão, em 2004. De lá pra cá, participou de algumas oficinas, foi monitor da Escola Popular de Comunicação Crítica, até que foi convidado para documentar o projeto Revelando os Brasis, percorrendo com sua máquina, diversas cidades do interior nordestino.

— Sempre tive um interesse específico pela fotografia documental. Mas a escola mudou minha forma de olhar o outro: detalhes que antes passavam despercebidos, agora são vistos com o olhar de um fotógrafo. Assim, passei a enxergar uma outra favela, uma outra periferia. E de uma maneira que só nós vemos.

Francisco Valdean, cearense de Cachoeira Grande que veio para o Rio aos 15 anos, também mudou sua história por meio da escola. O interesse pela fotografia sempre existiu — uma das primeiras coisas que comprou quando chegou à Baixa do Sapateiro, no Complexo da Maré, foi uma câmera — mas foi na escola que a fotografia deixou de ser paixão para virar profissão.

— Sem dúvida, o mais marcante da escola foi a consciência política que adquiri, tanto com os professores, quanto com os companheiros de turma. A parte técnica é interessante e necessária, mas o sentimento de coletividade marcou muito mais — conta ele, que já participou como fotógrafo de livros e revistas e hoje é um dos profissionais que trabalham no Observatório de Favelas.



A história dos dois não é muito diferente dos outros 22 alunos formados na primeira turma da Escola de Fotógrafos Populares, que iniciou suas atividades em maio de 2004, com aulas diárias, realizadas todas as manhãs, na Casa de Cultura da Maré. No primeiro ano, foram quatro meses de curso intensivo, totalizando 320 horas voltadas para a formação em documentação fotográfica, edição, escaneamento e arquivamento digital. Alguns trabalham na própria Maré, na Vila Olímpica ou no Observatório de Favelas, por exemplo, outros em instituições como a Petrobras ou a Ceasm e ganham a vida com a fotografia.

Todos eles são também contratados pela agência de fotografia Imagens do Povo, um dos muitos projetos do Observatório. O centro de documentação tem como objetivo registrar a realidade vivida nas periferias e favelas do Brasil. Pelo banco de imagens, os fotógrafos são chamados para diversos trabalhos, vendem suas fotos do banco de imagens da internet e ainda participam de projetos do Observatório de Favelas.

Foi através do Imagens do Povo, por exemplo, que Bira Carvalho, Ratão Diniz e Adriano Rodrigues foram convidados a expor fotografias que representassem o tema dos esportes na mostra Jogos Visuais, que esteve em cartaz na Caixa Cultural. Vinte e dois nomes foram escolhidos para fazer parte da seleção de trabalhos da exposição – três da Escola de Fotógrafos Populares.

O trabalho da escola é levado tão a sério, que pessoas de outros locais da cidade buscam o projeto — que ouvem falar no boca a boca, ou por outros profissionais já formados. Stefano Figalo, programador visual de 31 anos e morador de Santa Teresa, primeiro conheceu o trabalho do coordenador da Escola de Fotógrafos Populares, João Roberto Ripper, e só depois soube da escola.

— Tinha ouvido falar do projeto em 2004, numa conversa com uma amiga fotógrafa. Três anos depois lá estava eu conversando com o mestre Ripper sobre fotografia e ao mesmo tempo me candidatando a uma vaga de ouvinte no curso.
Aluno da turma que começou no mês passado, Stefano tem experimentado mais um aprendizado: o conhecimento do outro.

— O convívio com as pessoas da comunidade da Maré tem sido uma experiência totalmente diferente. Poder acompanhar o cotidiano dos moradores e trocar idéias é muito legal, para a profissão e para a vida. A busca pelo olhar crítico através da fotografia é o meu maior propósito com o curso, e acho que estou no lugar certo.

Alguém ainda tem alguma dúvida?

Marcadores:

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial