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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O chato de galochas vai ao cinema


Onde os fracos não têm vez/Juno

Por Sidney Garambone

O rol de elogios ao último filme dos irmãos Cohen transcende os bairros:

Panegírico 1: "Incrível a cena do caipira no quarto, tenso, aflito, esperando o assassino aparecer. Que suspense".
Panegírico 2: "Genial o cara matar as pessoas com um cilindro de ar comprimido".
Panegírico 3: "Acho que é o melhor filme deles. Aqueles americanos ordinários protagonizando uma trama sofisticada".

O filme não é ruim. Mas, humilde opinião, não é tão bom quanto o Oscar e os críticos brasileiros acham. A filmografia fraterna é excelente. Por gosto pessoal, "O homem que não estava lá" ganha o lugar mais alto do pódio. Disputando páreo a páreo com "Fargo". E é sobre "Fargo" que deve-se refletir. Apesar do divertido "Barton Fink" ter ido às telas antes, foi o périplo da xerife grávida e comilona atrás de um assassino que fez a fama dos cineastas, rotulados então de inovadores e surpreendentes.

A fonte é a mesma, como disse o terceiro panegírico. Só que muito mais redondo. A atriz Frances McDormand dá um show de interpretação e o filme desliza uma poesia crua pelo cotidiano simples de gente simples repentinamente surpreendido por um crime bolado por um gerente de uma revendedora de automóveis. Papel, aliás, que finalmente pôs o talento de William Macy no devido lugar.

E o atual? "Onde os fracos não têm vez"? O título lembra o Campeonato Carioca de 2008. Mas imaginemos Javier Bardem chegando a um boteco de Madri e encontrando vários amigos.

- Bardem, viejo! Qué película!

E só.

Muito diferente do que deve ter ouvido por "Mar adentro", onde emocionou meio mundo interpretando um doente terminal, suscitando emoções adormecidas no público.

A interpretação dele, como maníaco assassino perigoso, é estupenda.

E só.

Não basta um filme ter um ator afinadíssimo com o personagem. Muitos andam reclamando do final repentino, mas isto é detalhe cartesiano. O que incomoda em "Onde os fracos não têm vez" é a absoluta falta de mensagem e conteúdo, típico dos filmes de Tarantino, onde forma e roteiro casam perfeitamente, irretocáveis e maravilhosos, mas, infelizmente, ocos.

Qual a moral da história? Delegado em fim de carreira quer fugir dos problemas? Caçador veterano do Vietnã não consegue entender porque ficou desonesto de uma hora para a outra? Sentimentos atávicos são difíceis de evitar? Chicanos adoram se matar no deserto? Malucos matam porque são malucos? Matador legal tem ética e precisa ser perdoado pelos críticos?

É pouco, muito pouco. E raso. Mas talvez, alegarão alguns, não é mais preciso ter moral da história. Aí voltamos a Tarantino etc e tal.

Para não dar trela a Associação de Ranzinzas Contemporâneos, que tal esquecer os irmãos Cohen e partir para uma comédia badalada e também elogiada pela crítica?



"Juno"!

Outra decepção.

Povo besta que acha engraçado uma gravidez numa adolescente. O filme não se resolve do ponto de vista dramatúrgico. O pai de Juno é um sargento Pincel americano, que não passa a menor veracidade em frase alguma. As grosserias saídas da protagonista são inteligentes e finas, excelente para serem lidas, porém desconexas e sem graduação dramática. As cenas não convencem, beiram o "Zorra Total". E a única personagem lúcida e não caricata, a médica que faz a ultrasonografia, é ridicularizada pela enteada da protagonista.

O grande pecado do filme foi querer ser engraçado, optando pelo riso em vez da reflexão. Estética moderninha, bonitinho, recursos gráficos engraçadinhos, mas covarde por não assumir a emoção contida nos últimos 15 minutos. É no epílogo que o filme cresce, aprofunda e provoca. O resto é seriado americano juvenil, onde a melhor piada é estar concorrendo ao Oscar de melhor filme.

Estou muito chato ultimamente. Melhor beber.

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2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

E desde quando ser "oscarizado" (esca!) é atestado de qualidade pra algum filme. Já deram carqeuinhas pra cada porcaria...

26 de fevereiro de 2008 às 16:57  
Anonymous Anônimo disse...

careca por careca eu prefiro o crítico.

26 de fevereiro de 2008 às 17:38  

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