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quarta-feira, 12 de março de 2008

Humor e patrulhas

Por Luiz Bello


Na terceira e último noite do Festival Estação Piauí, o debate foi com os humoristas Marcelo Madureira e Tutty Vasques, juntamente com o uruguaio César Charlone (diretor de "O banheiro do Papa"). O mediador foi Marcos Caetano, colunista da revista "piauí". Convidado, o diretor Guel Arraes não pode comparecer.
Diante de uma platéia engajada e cinéfila, Marcelo não economizou provocações, afirmando, por exemplo, que "aquela merda do Cinema Novo" tinha sido "a pior coisa que aconteceu ao cinema brasileiro". Também propôs um protesto contra o fechamento da Help, antiga discoteca na Avenida Atlântica, um suposto antro de prostituição infantil que ele considera "um verdadeiro centro cultural". Enquanto Tutty contemporizava e Charlone se ruborizava, o mediador Marcos Caetano procurava conter as manifestações indignadas de parte do público - em especial um sexagenário militante do movimento gay e uma feminista, que pareciam recém-saídos de alguma anedota dos anos 80.

Bastante envergonhado com a incorreção política da discussão, Charlone tentou falar sobre as diferenças entre o humor hispano-americano e o brasileiro. Apesar de morar no Brasil a mais de 30 anos, ele confessou que ainda se choca com a nossa irreverência, inclusive diante de tragédias nacionais, como a morte de Ayrton Senna, transformada em uma famosa anedota meia hora depois de anunciada oficialmente.
- No Uruguai e na Argentina, até hoje não se fazem piadas com Carlos Gardel - lembrou o diretor.
Tutty Vasques indagou se Jacques Tati e os Irmãos Marx ainda teriam lugar num mundo em que o humor está cada vez mais cínico e cáustico. Marcos Caetano lembrou que o humor poderia ser definido como "a tragédia somada ao tempo", e é com o tempo que os humoristas transformam tudo em anedotas. Marcelo Madureira disse que cada humorista tem sua época, assim como cada jogador de futebol.
- Não adianta querer comparar.
Em seguida, respondendo a uma pergunta da platéia, admitiu que mesmo a morte do Bussunda virou tema de piadas entre os demais integrantes do "Casseta & Planeta":
- Meu irmão é espírita e trabalha conosco. Quando há polêmicas no grupo, eu sempre peço a ele que pergunte ao Bussunda o que ele acha da discussão.

Além de se indignar com as incorreções de Madureira, integrantes da platéia também lembraram que a suposta irreverência dos brasileiros não nos impediu de reagir negativamente a um certo episódio de "Os Simpsons", que mostrava o Rio de Janeiro como uma selva cheia de cobras e corruptos: "Eles fazem piada com todos os países do mundo, mas os brasileiros não souberam levar na esportiva", lembrou um dos espectadores.
Alguém quis saber a opinião dos debatedores sobre o "Pânico na TV". Em meio a um estranho consenso geral de que o programa seria de mau gosto, Marcelo Madureira disse que achava fácil tirar as calças de uma senhora, em frente as câmeras, numa praia do subúrbio carioca.
- Difícil é tirar as calças do presidente da República.
Um sinal dos tempos? Nos anos 80, quando "Casseta Popular" ainda era impressa clandestinamente em uma gráfica da PUC, uma das cobranças mais contundentes que o grupo sofreu foi, justamente, essa: a de que era mais fácil fazer piadas sobre mulheres, judeus e negros do que fazê-las com um ministro da Aeronáutica. Na época, inclusive, a resposta do grupo foi publicar uma série de anedotas do tipo: "Era-uma-vez-dois-ministros-da-Aeronáutica-um-chamado-Manoel-e-outro-Joaquim".

Madureira, ex-integrante do movimento Cansei, não deixou de alfinetar o governo do PT:
- Foi quando recebemos as maiores pressões para mudar nossas piadas - acusou, sem especificar exatamente quais pressões foram essas, apesar dos pedidos de Marcos Caetano.
Ele ainda falou sobre o próximo filme do "Casseta & Planeta", uma biografia de Agamenon Mendes Pedreira, supostamente filmada por Eduardo Coutinho e narrada por Fernanda Montenegro.
- Mas o Agamenon mata o Eduardo, assume a direção e passa o filme inteiro brigando com o seu biógrafo oficial, o Ruy Castro - adiantou Marcelo, lembrado que, ao contrário dos filmes anteriores, esse não será escrito por todo o grupo, mas apenas por ele e Hubert: - O Monty Python tinha muitos integrantes, mas os roteiros de seus filmes também foram escritos a quatro mãos.

Outra aparição interessante foi a "Tia do Pânico". Alguém sabe que ela é? No debate, ninguém, mas essa velhinha de cabelos loiros pegou o microfone para "revelar" que era uma das personagens mais famosas do "Pânico na TV". Para constrangimento de João Moreira Salles e ao som de uma gargalhada geral, Marcelo convidou-a para escrever um artigo na próxima edição da revista "piauí".

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2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

A sanha das correções políticas não corrigem porra nenhuma...só potencializam o sarcasmo das incorreções, ainda bem...
Valeu!!!

17 de março de 2008 às 02:47  
Blogger Leandro Jardim disse...

Ótimo artigo, concordo também com o comentário acima!

abs

28 de março de 2008 às 16:24  

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