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segunda-feira, 10 de março de 2008

Verdades e mentiras


Por Eduardo Souza Lima

Pode-se gostar ou não dos filmes de Walter Salles, mas ninguém duvida que o cara leva muito a sério o que faz. No debate de ontem do Festival Estação Piauí, o diretor, além de falar do processo criativo de "Diários de motocicleta" (ver o vídeo abaixo), revelou que o lançamento da versão não editada de "On the road" fez voltar à estaca zero a adaptação para o cinema que estava fazendo do livro de Jack Kerouac - e isso depois de ele fazer um documentário sobre o mesmo:
- A versão que a gente conhece é muito amaciada em relação ao que o Kerouac havia escrito. O livro original era muito mais sexual, tinha expressões como "foda-se", que eram proibidas pela censura americana na época. Tivemos que abandonar o que fizemos, pois descobrimos que o Kerouac tinha uma visão muito mais aguda da realidade americana do que imaginávamos.

Outro filme sobre o revolucionário argentino esteve em pauta: "Personal Che". No debate - que, diga-se, esteve mais para um bate-papo informal - o diretor Douglas Duarte contou como teve a idéia de fazer o documentário, que tem estréia prevista para junho:
- O "Personal Che" reúne impressões e reinvenções de várias pessoas ao redor do mundo sobre quem é Che Guevara. Eu estava na Bolívia fazendo uma matéria e conheci uma mulher que me disse que Che tinha salvado a vida de seu marido. Imaginei que fosse em alguma operação militar, mas ela me disse que tinha sido um milagre. Descobri que Che era adorado como um santo na região. Lá também me deparei com vários jovens de esquerda que o cultuavam e, pra fechar a história, o motorista que estava com a gente foi o mesmo que transportou o seu corpo. Voltei parta o Brasil com três Ches na bagagem e resolvi fazer um filme sobre gente que tinha uma fé tão grande no seu próprio Che que moldava a sua vida a partir dele.

Karim Aïnouz contou que teve vontade de levar a vida de Madame Satã às telas depois de ler a biografia escrita por Rogério Durst:
- Nem pensava em ser diretor na época, mas achei que aquela história deveria virar filme, que as pessoas deveriam conhecê-la.
O diretor disse que tinha dúvidas entre fazer um documentário ou um filme de ficção, mas que optou pelo último depois de confrontar a autobiografia do malandro da Lapa, escrita por Silvan Paezzo (isso mesmo, Mademe Satã era analfabeto e relatou sua vida ao autor), com a realidade.
- Eu me dei conta que era um livro de super-herói, parecia uma história em quadrinhos. Tem uma história que diz que ele estava sendo transferido para a Ilha Grande e não agüentava mais ser preso. Então ele pegou um lençol e fez um espetáculo de inspiração oriental. Os guardas ficaram vendo e ele pulou no mar. Segundo o relato, ele nadou da Praça XV até o Leblon, onde tomou uma cerveja. No livro, a história termina em manchete de jornal: "Madame Satã escapa da prisão num balé oriental". Fui às fontes primárias, os jornais da época. Pesquisei na Bilioteca Nacional e não encontrei nenhuma menção à história. E descobri que várias das histórias não estavam registradas nos jornais. Vi que o Madame Satã ficcionalizava a própria vida. Aí eu vi que não fazia sentido fazer um documentário. O filme são coisas que eu imaginei que ele imaginaria.

Já o historiador de oposição José Murilo de Carvalho, autor da biografia "D. Pedro II - Ser ou não ser", disse que só os jornalistas acreditam na verdade. Sendo coerente, mentiu descaradamente:
- Se os jornalistas falassem do Lula o que se falava de Dom Pedro na época estariam todos presos.

O Festival Estação Piauí termina amanhã tendo como pauta o humor. Participam do debate, às 19:30h, os jornalistas Tutty Vasquez e Marcos Caetano e os cineastas Guel Arraes e Cesar Charlone. Os filmes do programa são "Meu tio" (às 13h), 15h10 "Um dia nas corridas" (às 15:10h), "Escola do riso", de Mamoru Hoshi (às 17:20h) e "O banheiro do Papa", às 21h.

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