Ches para todos os gostos

Che Guevara não é só o idolo da garotada de esquerda, nem simplesmente um assassino frio, como quer reduzi-lo a direita oportunista. Há muitos Ches por aí, e eles tanto podem estar estampando camisas de neonazistas alemães como estrelando musicais libaneses ou sendo cultuados como santos na Bolívia. O surpreendente "Personal Che" (Brasil/Colômbia/EUA), do brasileiro Douglas Duarte e da colombiana Adriana Mariño, que estréia hoje no Rio e em São Paulo percorre o mundo atrás deles, de Hong Kong a Cuba, passando pelos Estados Unidos. "Acho que isso acontece porque Che conversa com coisas muito anteriores a esquerda e direita. Heroísmo, carisma, beleza, idealismo, nenhuma dessas qualidades é de esquerda ou direita. É como debater se Jesus, Robin Hood ou Batman são de esquerda ou direita. Ainda entramos nessa discussão porque Che é uma figura relativamente recente e ainda nos lembramos de que foi um guerrilheiro latino-americano marxista. Mas imagine daqui a 500 anos. Se o rosto dele ainda estiver por aí, a ignorância sobre a história dele vai ser ainda maior e a criatividade para reinventá-la também", diz Douglas. Leia abaixo uma entrevista com o diretor e assista ao trailer aqui.
Como você teve a idéia de fazer o filme?
Em 2004 visitei a Bolívia para produzir uma matéria para a TV NHK sobre como a trilha da guerrilha do Che havia se tornado uma atração turística. Lá, encontrei os moleques de esquerda, com camisas de Che, querendo ver como seu ídolo morreu. Conheci também o homem que capturou Che, general Gary Prado, para quem ele era um inimigo, um invasor. E também camponeses bolivianos que lhe pediam milagres. Voltei para o Brasil com três Ches na bagagem.
Como você conhece a Adriana Mariño e como nasceu a parceria?
Conheci ela logo depois de voltar da Bolívia, num fórum de documentaristas na internet. Contei essa história e começamos a nos perguntar se não haveria mais Ches por aí e se isso poderia dar um filme. A partir daí, passamos a pesquisar outras facetas inusitadas do mito. Trabalhamos durante um ano, ela em Bogotá, eu, no Rio, até nosso primeiro encontro, na Bolívia, para filmar material para um curta que "venderia" a idéia do projeto, que já era bem grande nesse ponto: diversos países, diversas histórias se entrelaçando.
Como o filme foi viabilizado financeiramente?
Depois de pronto, começamos a mandar este curta para diversos possíveis produtores e investidores. Três meses depois, a Skyview, uma produtora baseada em Miami dirigida por um colombiano e um equatoriano, decidiu se juntar a nós e investiu o orçamento total do filme.
Como vocês chegaram aos personagens?
De todas as formas imagináveis. Alguns encontramos pela internet. Outros foram sugeridos por amigos. Na Bolívia, gastamos muita saliva fofocando em mercadinhos do interior e muita sola de sapato para encontrar bons devotos de San Che. E finalmente em Cuba, foi a persoagem que encontrou a equipe. Tínhamos planejado várias entrevistas, mas foi o taxista que nos levou de uma para outra, o Carlos, o personagem que rendeu. As primeiras imagens dele no filme foram gravadas menos de dois minutos depois de conhecê-lo, quando ele começou a falar coisas maravilhosas sobre sua visão de Che. Documetário tem desses acasos.
Por que os donos da loja americana têm a sua identidade protegida?
Eles não queriam ser filmados. Decidimos respeitar isso e proteger suas identidades, mas sem abrir mão da cena.
Qual é o seu personal Che?
O do filme!
Marcadores: Cinema
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