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sábado, 28 de junho de 2008

A Porto Alegre de Nine


Acabou de sair do forno "Porto Alegre", nono volume da série Cidades Ilustradas, da Editora Casa 21. Desta vez, Carlos Nine, um dos maiores quadrinistas e ilustradores argentinos, empresta à capital gaúcha o seu traço mui particular. O livro deve ser lançado ainda este mês em Porto Alegre. No Rio, provavelmente só em agosto - a gente avisa quando tiver as datas certas. Abaixo, reproduzimos o prefácio, escrito com gosto pelo cineasta Jorge Furtado, de "O homem que copiava".



Não deixa de ser humilhante: precisou vir alguém de longe para mostrar aos porto-alegrenses o que a cidade tem de mais bonito. Eu, que sempre morei aqui e faz tempo, nunca tinha visto a cidade tão bonita. Faltou só o Museu Iberê e o Teatro São Pedro, ambos cobertos de tapumes quando Carlos Nine andou por aqui.

De resto, o melhor da cidade está lá: a incomparável luz oblíqua, os prédios elegantes, as árvores multicores pedindo para virar aquarelas, o céu imenso sobre o Guaíba, o pôr-do-sol de catálogo, os parques cheios de tipos e, principalmente, os tipos.

Repare nos tipos. Aquele coelho artista, cachimbador, mora perto da minha casa, vejo por aqui seguido. É ensimesmado, arredio, talvez sonhe com murais ou tenha problemas em casa. Não dá conversa a ninguém.

O porco de gabardine e sua esposa longilínea eu já vi lá pelo bric, acho que mexe com imóveis. Tipo risonho, viajado, bom papo. Sua senhora é uma deusa, mangas bufantes, très chic, dizem que fidelíssima. Porco de sorte.

E os monges flutuantes? Acabou de passar um pela minha janela, juro, sem piadas e sem balões, são monges sérios. Levitam por serem leves, naturalmente, vão com o vento. Mas voltam, acho que a pé.

Reparem o cão deprimido que bebe vinho no chalé da Praça XV. Seu interlocutor, bacharel psitacídeo, se esforça em convencê-lo a tentar vida em São Paulo. O cão reluta. Talvez já mude de idéia, pois se aproxima o leão, rei dos arquitetos, vendendo imóveis na planta, uma conversa intragável. Menos mal que a filha é uma gata.

E preste atenção quantos livros: patos, pintos, bigodudos, mocinhas pernudas, gansos, guascas, todos lêem. A cidade gosta de livros, bem que ela faz. Todos lêem, ou tocam violão, ou cantam, ou pintam, ou dançam. Se não lêem, correm, se exercitam, cuidam da mente ou do corpo. Todos lêem, mas na cidade, olhe bem, não se vê palavra escrita: sem placas, reclames, faixas, nada de letras na rua! Que prazer as placas dão com sua ausência! Ah, fosse sempre assim!

Sereias, dragões, tritões, o pato cantor, Padre Mário, o Veríssimo, Netuno, o Vasques, o Santiago, aquela coruja pilchada, mais os anjos trombeteiros, o Rodrigo Rosa, o Lancast, o Fraga, o Atlas, o Zimbres, andam todos por aqui, vez por outra nos cruzamos. Já o Gilmar, não conheço, pelo menos que eu me lembre. A cidade também não é tão pequena assim, nuvem aqui não falta.

Valeu Nine! Volte sempre!

Jorge Furtado
Porto Alegre, seis de maio de dois mil e oito.




Recife será a décima cidade a ser retratada pela coleção. O artista escolhido foi André Juillard, que atualmente desenha as novas aventura da dupla Blake & Mortimer, criação imortal de Edgar P. Jacobs. Juillard deve chegar ao Recife em outubro.


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