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domingo, 3 de agosto de 2008

"MC Beto"

Por Eduardo Souza Lima


Ainda não fui ver "Era uma vez", gosto do Breno Silveira, mas deu preguiça. "Maré, nossa história de amor" mal saiu de cartaz, outro "Romeu e Julieta" na favela não dá. Shakespeare escreveu 37 peças, é muita falta de imaginação. Por conta disso, lembrei-me de uma idéia, que tive quando tinha uns 16 anos, de adaptar minha peça preferida dele, "MacBeth", para o Rio de Janeiro contemporâneo. Chamar-se-ia "Betão" e se passaria no submundo do jogo do bicho. Betão seria o favorito do mandachuva da contravenção, a quem trairia depois de ouvir os vaticínios de três orixás. Deu vontade de retomar o tema, mas com modificações, já que o bicho saiu da pauta do dia e não quero contribuir com a perseguição às religiões afro-brasileiras - entidades não fazem mal à ninguém; gente mal intencionada, sim. O enredo tem elementos que parecem saídos diretamente das páginas de jornal: chacinas, balas perdidas, assassinatos de crianças e guerra na favela.

Seria mais ou menos assim: aspirante a funkeiro, MC Beto é protegido de Du Cão, chefão do tráfico do Morro do Escocês. Um belo dia, depois de vencer uma sangrenta disputa de território com uma quadrilha rival, MC Beto e seu parceiro Branco são procurados por um pastor pentecostal, que diz a eles que teve uma visão. Nela, Jesus Cristo teria lhe dito que o primeiro seria o rei do tráfico da cidade e que o filho do segundo o sucederia. O tal pastor, na verdade, trabalhava para um político evangélico que ambicionava que sua igreja dominasse o Escocês, mas que estava esbarrando na resistência de Du Cão, devoto de Ogum. Movido pelo que disse o falso vaticínio, pela cobiça e pelos conselhos de sua pérfida mulher, Leyde, MC Beto trai e mata o seu protetor e toma o poder no morro. Em seguida, começa uma guerra pela tomada do poder total sobre o tráfico no Rio. Vira o rei da cidade, mas cegado pela ambição, começa a eliminar quem julga ameaçá-lo. E acaba matando seu parceiro Branco e o filho pequeno dele.

Encastelado no topo do Escocês, numa fortaleza que considera inexpugnável, cercada por um denso matagal, e com a polícia da cidade no bolso, MC Beto é assombrando por sua consciência e por terríveis visões. Procura o pastor e este lhe diz que teve outra visão. Desta feita, Jesus teria lhe aparecido e dito que MC Beto só seria derrubado quando o matagal subisse as muralhas de sua fortaleza, que ele só deveria temer MC Dafé - um dos poucos traficantes que permaneceram fiéis a Maicon, filho de Du Cão - e que só morreria pelas mãos de um homem não nascido de uma mulher. As palavras do falso religioso o tranqüilizam um pouco, mas ele continua insano. Acaba atrapalhando os planos do político evangélico, que se alia a MC Dafé para derrubá-lo. O político toca uma obra no morro com o auxílio do Exército e decide usar soldados crentes ingênuos para invadir a fortaleza de MC Beto. Este, fica horrorizado ao ver homens com uniformes camuflados se aproximando de seu quartel - em sua loucura, imagina que é o matagal se aproximando das muralhas. Prevendo o fim se aproximar, Leyde se suicida. Em meio a um forte tiroteio, MC Beto grita para os seus inimigos que só pode morrer pelas mãos de um homem que não nasceu de uma mulher. "Eu nasci de um cadáver!", rebate MC Dafé - cuja mãe morreu de bala perdida, antes do seu nascimento - e o mata. O Escocês é pacificado.

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2 Comentários:

Blogger Ave disse...

Ô Zé, que falta de imaginação... Macbeth já virou filme de gangster duas vezes, western e filme de samurai...

4 de agosto de 2008 às 01:39  
Blogger Revista Zé Pereira disse...

Então vou deixar Shakespeare pra lá e tentar "Tristão e Isolda".

4 de agosto de 2008 às 15:37  

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