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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

PhD em Cinema Brasileiro: "Os Desafinados", o cinema-delírio de Walter Lima Jr.

Por Paulo Henrique Souto


"Os Desafinados", de Walter Lima Jr., eu vi em cinema de shopping, casa lotada e aplausos no final. Lirismo puro jorra da tela, como toda a obra desse mestre "Menino de engenho", "Ele, o Boto", "A Ostra e o Vento"). A experiência de um cineasta - alter ego do diretor - e de amigos músicos que vão tentar a sorte na América nos anos 60 e o reencontro anos depois, numa bem arquitetada rede de emoções, este é o filme. Primorosa produção de Flavio Tambellini, direção de arte do Clovis Bueno, numa história de esperança, nada, graças a Deus, que nos lembre os filmes atuais. Walter Lima Jr. (personagem de Selton Mello) mostra seu amor ao cinema, expõe o contraplano de sua própria vida, uma mãe doente, presa na cama, que com movimentos do tórax o apóia, dá alento para o filho seguir atrás do sonho. Genial sacada do Waltinho, as famílias preferiam ver os filhos médicos ou funcionários do Banco do Brasil; cineasta, artista, jamais. A figura da mãe é de deixar psicanalista no chinelo. É só parte do que rola na tela, está lá o poderio americano se apropriando da música dos jovens ingênuos, um cineasta que acha a América fria, lugar onde não se olha nos olhos, e reporta à Antonioni. O machismo brasileiro - escondem que têm outra mulher, mas, apaixonados, vacilam e se entregam nas letras das belas músicas.

"Os Desafinados" ratifica a sensibilidade dos verdadeiros artistas, que comem o pão que o Diabo amassou e sobrevivem para contar a história. O golpe de 64 está lá; o primeiro filme, que vai para Moscou nos tempos de censura e repressão, também está. O mercado dominado pelos americanos - não olham nos olhos, mas tapam os nossos olhos, nos roubando o espaço nas salas de nossos cinemas, tudo isto está lá, na janela mágica do cinema-delírio de Walter Lima Jr. O cineasta e os amigos músicos vão e voltam no tempo, a mescla de memória recolhidas na fonte do cineasta que tudo registrou, com os depoimentos dos jovens anos depois, é pura emoção. Filme rico de informações nas entrelinhas, como a cena do pedido de assinatura para uso das imagens pelas TVs, as que não exibem, mas exploram o cinema brasileiro, é boa demais. Desfecho alto-astral, com o retorno mágico do Rodrigo Santoro. A câmera do parceiro Pedro Farkas; o elenco que dá um show, a sensual nudez despojada de Claudia Abreu, a beleza e o amor dedicado de Alessandra Negrini. Os músicos não são identificados, cada espectador ver quem quer. Pode ser o Tom Jobim, Vinicius, Cartola, Pixinguinha, Nara Leão, Caymmi, todos esses e outros mais, que, eu afirmo, lá do alto aplaudem, de pé, este belo filme. Magistral. Vá e confira, não duvide você que me lê: "O cinema brasileiro diz mais ao brasileiro que qualquer filme estrangeiro", bem dizia Paulo Emilio Salles Gomes. Aguardem o próximo episódio.

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1 Comentários:

Blogger MC disse...

ah, fui ver ontem, empolgada com a crítica, e não achei essa coco-cola toda não, mesmo gostando dos atores. a fotografia (e talvez o elenco) me pareceu um especial de final de ano da globo, sem um cuidado mais apurado, a abundância de clichês. filme para fã de bossa nova, talvez, mas não pra fã de cinema. até os romance-bossa-nova, cheios dos barquinhos q o personagem do selton mesmo criticava. o personagem dele, sim, mesmo ainda selton mello, fez um contraponto entre os civilizados selvagens em new york. (bossa nova e jazz é música de selvagem que branco gosta de ouvir? - foi o que entendi da avaliação do tio "bill"...)

20 de setembro de 2008 às 14:40  

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