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terça-feira, 24 de julho de 2007

"Chão forrado"


Paulo Henrique Souto*



“O sonho do diretor é ter o chão forrado de espectadores, ocupando as cadeiras e sentados no chão das salas de exibição”. Esta pérola foi soprada em meu ouvido por Humberto Mauro (1897-1983), com seu bom humor, na exibição do filme “A noiva da cidade”, de Alex Vianny, em Volta Grande (MG), nos idos de 1980, vendo o chão da fábrica de tecidos desativada, forrado de gente, assistindo à sessão.
Há mais de 20 anos minha batalha — e prazeroso oficio — é tentar pôr nos jornais e que tais notícias dos filmes brasileiros — nada a reclamar dos coleginhas da imprensa, sempre conseguem um espaço. Ultimamente, porém, sinto-me frustrado com o resultado do trabalho. O motivo: os filmes, grande maioria, entram em uma única sala e, pior, em horário picotado, como um pedaço de carne. É cruel, só se tiver sorte será um filé, e entra em horário que o público vai ao cinema; muitos entram nos piores horários, aquela hora que poucos privilegiados têm tempo disponível. É aí que mora o perigo, pois não dá chance de formar o boca a boca — o cara que vai fala para o outro ir, isso ajuda manter o filme em cartaz. E se não for visto na primeira semana de exibição, simplesmente tiram de o filme de cartaz. O critério é matemático (?) — espero que seja levado em conta o horário da exibição, será? Minha frustração é que nessa primeira semana ainda tem matérias nos jornais, nos sites, programas de TV, revistas de variedades, ou seja, o filme ainda está na mídia. O público vê as matérias, se interessa, vai procurar o filme no cinema, e cadê? Já saiu de cartaz. Cinema com diversos horários é invenção nova, produto da globalização, ou talvez da diminuição das salas. Mas é algo que, no meu entender, precisa ser revisto urgente, caso contrário o público vai procurar o mais fácil, o filme das sessões continuas. E o bom do cinema brasileiro vai morrer na praia, sem fôlego, aplaudido e premiado somente em festivais país afora... Saudades do grande Humberto Mauro, fazia seu cinema cachoeira, e gostava de ter o “chão forrado de gente”.
E quem não gosta? Viva o cinema brasileiro!



*Paulo Henrique Souto, formado em Comunicação Social, é assessor de imprensa, cineasta (dirigiu “Aníbal um carroceiro e seus marujos), produtor-executivo (“Cabaret Mineiro” e “Rio de Jano”) e ator.

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1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

É isso aí, Paulinho. Você melhor do que ninguém conhece a luta de dar visibilidade ao nosso cinema. Não esmoreça que muita gente continua precisando de trabalhos de formiga como o seu.

24 de julho de 2007 às 18:06  

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