Revista Zé Pereira
Compre Aqui
Embarque
Marcha dos CineclubesO Caos Anda Sobre RodasHitler no LeblonO Caminho de Santa Teresa

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Migalhas da corte


Por Adriana Nolasco

Mais um ISS que vai, mais projetos que ficam - a ver navios, numa homenagem ao tema do mencionado edital, os 200 anos da chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, docemente imposto por nosso Czar para o Biênio 2007/2008. Cada povo tem o Czar que merece. Estamos falando do edital da Lei 1940/92 ou Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Não quero chorar a clássica mágoa de quem não foi selecionado, mas meus projetos não foram selecionados mesmo. Minha produtora já aprovou dois projetos e conseguiu captar pra um que tá rolando no momento. As particularidades desse processo, também impagáveis por qualquer patrocínio, só vou poder expor quando acabar o filme, por motivos que vocês já devem imaginar.
Falar do edital do ano passado é chover no molhado, já que esse ano parece tudo reprise do Manoel Carlos. Aproveito então para tecer considerações sobre o ano corrente, já que a cada novo exercício fiscal chovem motivos, mas minguam os comentários. Há sempre ganhadores e perdedores, isso a gente já sabe, o problema é o critério que, nesse caso, parece ser o obscurantismo pleno.
Pra começar, poucos devem ter tido acesso a essa informação, mas nosso Czar, nos quarenta e cinco do segundo tempo, dias antes do fechamento da data limite do edital, liberou geral o tema dos projetos, antes obrigados a falar das coxinhas de D. João. A cada canetada do nosso prefeito, uma profusão de perguntas surge apressada. Na última hora? Por que? Alguém avisou? Segundo capítulo: no dia anterior à data estipulada para cadastramento dos patrocinadores no site indicado, os campos para preeenchimento do cadastro já estavam liberados, apesar do edital mencionar que só poderiam ser acessados no dia seguinte às 9h. O segredo é a alma do negócio. No dia seguinte às 9h: em menos de trinta segundos, tempo quase impossível para preencher o tal formulário, o dinheiro destinado à isenção fiscal já tinha acabado. Dessa vez nós produtores conseguimos articular uma mínima ação em conjunto e telefonemas choveram nos gabinetes municipais. Alguma coisa aconteceu: pediram desculpas, botaram a culpa no departamento de informática, marcaram nova data, publicaram de novo no DO. Após uma ano de trabalho duro formatando sonhos no mais novo modelo burocrático, não é um atrasinho à toa que vai demover nossa fé de desesperados.
Mas vamos aos resultados: and the Oscar goes to… Pros poucos projetos em vídeo e cinema, a glosa só fez aumentar. Pequenas merrecas distribuídas com parcimônia. Na área de artes plásticas um projeto chamado "Mulheres Reais", de R$ 2.000.000,00, quase nenhuma glosa. Imagino o Rio Sul embrulhado em banners gigantes com mulheres de verdade, preenchidas de botox e silicone. Interessante a arte contemporânea. Já ia me esquecendo: uma surpresa na área de cinema, um filme chamado "Polaróides Urbanas" da Filmes do Equador. Sabe quem é o diretor? Ele dirigiu "Império". Falar em impérios me leva a observar também que a maioria dos projetos continua sob a batuta da Corte portuguesa. Essa cidade tá realmente precisando revisar sua história.
Não preciso nem dizer que nenhum amigo e nem ao menos um conhecido foi selecionado. Pra não ser injusta fica a alegria de informar que a galera do Beco do Rato e do Cinemaneiro emplacaram uma das merrecas distribuídas. Mas o melhor é ver com os próprios olhos. Vai no site do Diário Oficial do Rio de Janeiro, escolhe o dia 20, clica em publicações a pedido, quando carregar a página volte duas atrás e ache o título "Comissão Carioca de Promoção Cultural". Dê um breve passeio e veja que em 2008 nós ouviremos muita música na igreja e nos CDs comemorativos dos 200 anos série I e II, saberemos ainda mais coisas sobre D. João e suas peripécias na casa de banho, na hora do chá, no Jardim Botânico, na chegada, na aclamação, conheceremos sua galeota, seus tesouros e até uma realeza virtual – inclusão digital é isso aí -, levaremos óperas no bolso, pularemos carnaval com as escolas de samba mirins ao som do samba da corte, veremos também as tais polaróides urbanas e conheceremos mulheres reais.
Promete ser um ano e tanto.

Marcadores:

2 Comentários:

Blogger Sangue de Barata disse...

Essa estória de como se tem produzido cultura no brasil deve fazer com que a gente realmente reflita sobre o assunto.

Só pra deixar registrado, citei o blog no último texto lá do blog: http://sanguedbarata.blogspot.com/

Abs.

22 de setembro de 2007 às 17:39  
Blogger Dr. Banner disse...

Leis de incentivo suck! O esquema é labutar como um camelo e empenhar as economias num projeto. Depois, caprichar no plano de fuga e escolher um viaduto bem bonito pra pular. Isto sim é licença poética!

24 de setembro de 2007 às 01:46  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial