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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A hora e a vez dos cariocas


Por Estevão Garcia

Em toda edição, o Curta Cinema promove uma sessão especial intitulada Lançamentos Cariocas. É o momento de conferir a última fornada de curtas-metragens produzidos na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Geralmente a noite do Lançamentos Cariocas é disputadíssima, repleta de convidados estrangeiros e nacionais, de realizadores dos filmes lançados e de suas numerosas equipes técnicas. O Odeon quase sempre fica lotado e o Lançamentos Cariocas desse ano não podia ser diferente. A sessão de ontem estava cheia, mas tão cheia que teve quem especulou que o cinema estava mais abarrotado que a noite de abertura do Festival, ocorrida na quinta-feira passada. Sem chegar a contar o número de espectadores na sala para constatar de fato qual das duas sessões estava mais cheia, o meu parâmetro foi a revista Zé Pereira. Sim, a revista foi um excelente medidor. Assim que abriu as portas da sala, com 40 minutos de atraso, eu coloquei duas pilhas da Zé Pereira número 1 em cima do balcão e em poucos minutos não tinha mais nada. O público do Festival devorou as revistas de maneira ágil e precisa. Falando na revista, não custa mais uma vez reiterar, é hoje, dia 31/10/2007, a festa de lançamento do número 3 no Puebla Café, a partir das 20h.

Mas, voltando ao Curta Cinema e ao Lançamentos Cariocas, vamos aos filmes. Ontem foram exibidos: "Pretinho Babylom" (de Cavi Borges e Emilio Domingos, foto), "Profissão voyeur" (de Carlo Mossy), "Poema sujo" (de Nicolas Viggiani) e "Irmão Bom" (de Renato Martins e Joaquim Castro). O primeiro da noite, de Cavi e Emilio, é um interessante experimento aparentado a estética do videoclipe, mas sem cair nos maneirismos que essa aproximação muitas vezes resulta. Como os próprios realizadores afirmaram na apresentação, o projeto nasceu como um videoclip, mas acabou se transformando em um curta. E mais do que um audiovisual que mudou de formato ao longo do seu processo de gestação, "Pretinho Babylom" é um estudo de ritmo e variações sonoras em torno de seu protagonista. Não vemos aqui cortes bruscos, planos curtos em demasia ou descontinuidade espacial como na maioria dos clips e sim principalmente a música como condutor narrativo. As imagens acompanham a música e não ao contrário. Até aí nada de novo, muitos já fizeram isso com sucesso, mas o que faz de "Pretinho Babylom" um belo curta não é a originalidade da proposta e sim a sua condução através de um enfoque pessoal. As falas fora de sinc aqui não são percebidas como um defeito ou uma falha técnica e sim como figuras de estilo, totalmente coerentes ao todo do filme.

"Profissão voyer" marca a volta do diretor/ator/produtor Carlo Mossy ao cinema. Um dos principais produtores e diretores cariocas de Pornochanchada, com a dissolução do gênero no inicio dos anos 80, Mossy como muitos outros realizadores de comédias eróticas, migrou para o sexo explícito. Esquecido e relegado ao ostracismo durante anos, Mossy ressuscitou no começo dos anos 2000 graças a exibição de seus filmes pelo Canal Brasil. Tornado cult de uma hora pra outra, Mossy hoje usa ao seu favor a fama que adquiriu nos anos 70. Geralmente o que é desprezado pela crítica e pelos intelectuais há 30 anos atrás, é recuperado nos dias de hoje. Veja o exemplo da chanchada, tão espinafrada pelos círculos cultos nos anos 40/50 foi cultuada a partir dos anos 70/80. A comédia erótica brasileira setentista ainda não foi acolhida pela crítica especializada, pela academia e pela historiografia do cinema brasileiro como as nossas comédias musicais, mas ao menos ela já é objeto de adoração de alguns. "Profissão voyer" como afirmou o diretor no palco do Odeon, é uma espécie de piloto para uma série que será produzida para o Canal Brasil. O curta já carrega ares televisivos e gira em torno da fórmula clássica de comédia de erros + troca de casais. Não deixa de ser curioso ver o retorno de Carlo Mossy fazendo o que ele sempre gostou de filmar.

Os dois últimos filmes são duas "cinebiografias". "Poema sujo" conta a experiência do poeta Ferreira Gullar ao longo de seu exílio argentino, momento em que ele escreveu em 1975/76 o livro de mesmo nome. Narrado em off pelo próprio Ferreira Gullar, o curta procura realizar um mergulho no processo criativo do poeta. "Irmão bom" é uma homenagem ao cineasta recentemente falecido Sérgio Bernardes. Os dois curtas não desejam realizar um retrato de personagem padrão ou uma biografia no formato tradicional. O primeiro tenta sair dos moldes comuns tentando se focar em um recorte bem delimitado (a escrita do "Poema sujo") e o segundo montando um registro não linear e cronológico de Bernardes. Optou-se por não mostrar imagens de seus filmes e sim as palavras evocadas em seus depoimentos e o semblante de sua imagem.

Até o Lançamentos Cariocas do ano que vem.

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