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sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Primeira sessão, Primeiros Quadros


Por Estevão Garcia

A sessão de abertura do Curta Cinema ocorrida na noite de ontem no Cine Odeon mostrou aos convidados um resumo do que o evento exibirá nas próximas duas semanas. Assim, tivemos a oportunidade de ver pelo menos um filme de cada retrospectiva especial. Sabiamente a curadoria optou por não exibir nenhum curta das competitivas nacional e internacional, pra não acabar dando privilegio a alguns filmes em detrimento de outros. O que vemos ontem foi: "Meu nome é Gal" (1970), da retrospectiva Antonio Carlos da Fontoura; "Johann Sebastian Bach: Fantasia G-moll", (1965) da sessão especial dedicada ao animador tcheco Jan Svankmajer; "Rey Muerto" (de Lucrecia Martel, Argentina, 1995, foto) do Foco Argentina; "La Lettre"(1998), da retrospectiva Michel Gondry; "Asas, sombras, bicos e unhas de sonho" (de Beto Brant, Brasil, 2006), o único filme da sessão que não faz parte de nenhuma retrospectiva do Festival; e "Seams" (de Karim Aïnouz, EUA/Brasil, 1993,) da sessão Primeiros Quadros.

O filme de Antonio Carlos da Fontoura chama mais a nossa atenção pela curiosidade do que propriamente por suas qualidades. Sendo uma reunião de três videoclipes em uma única cópia que mais parecia uma VHS, a coletânea de três canções belamente interpretadas por Gal Costa, da maneira em que foi exibida, aparentava caber mais adequadamente como extra de um DVD do que projetado como um curta-metragem. A equipe técnica conta com Lauro Escorel na fotografia e Davi Neves na produção. O ano era 1970 e apesar da deficiência da cópia, dava para perceber o requinte da fotografia de Escorel, bem afinada com a época e coerente com o visual e a persona de Gal. O tom psicodélico pop das cores e determinadas referências iconográficas buscadas por Fontoura nos sugere que aqui essa pesquisa pelo mundo pop/kitch/cafona é apenas um esboço do seria aprimorado quatro anos depois em "Rainha Diaba".

"Johann Sebastian Bach: G-moll", de Svankmajer, nos serviu como um aperitivo ou como uma entrada que estimula o nosso apetite em acompanhar todas os três programas dedicados aos seus filmes de curta duração. A sensibilidade surrealista presente em suas construções imagéticas, o apuro no desenho sonoro, o ritmo e a cadência equilibrada fazem de "Johan Sebastian" um interessante convite a um passeio pela obra do animador de nome quase impronunciável. "Rey Muerto", ao contrário do curta de Savankmager, não é um convite e sim uma constatação. Para quem conhece os dois brilhantes longas de Lucrecia Martel "O pântano" e "A menina santa" a experiência de assistir esse curta apenas comprova o seu enorme talento. Mais do que a tentação de procurar encontrar nesse curta de 95 características estilísticas que posteriormente seriam retrabalhadas em seus longas, ver "Rey Muerto" sublinha a pulsão e a relação visceral estabelecida entre a diretora e o cinema.

"La lettre" nos descreve a relação de Stephane com o seu irmão mais velho que o incentiva a perder a timidez e se declarar a menina de seus sonhos. Desconsiderando alguns maneirismos e alguns excessos que nada acrescentam à visualidade e a narrativa do filme, "La lettre" possui bons momentos como a seqüência onírica em que o protagonista se converte em uma máquina fotográfica ambulante no meio do ano novo. "Asas, sombras, bicos e unhas de sonho" de Beto Brant possui apenas três minutinhos e se constitui em um exercício do autor feito com a câmera de seu celular. Inédito e exibido especialmente para a abertura do Festival, o pequeno filme de Brant nos dá a sugestão de que a arte do audioviosual é ampla e que não deve se restringir apenas aos formatos mais consagrados. É possível criar e fazer cinema com o celular. O impulso poético do curta de Brant permanece na tela quando vemos os primeiros fotogramas de "Seams". Karin Ainouz, depois de morar anos no EUA, retorna ao Ceará onde viveu sua infância e constrói um revelador ensaio com as suas cinco tias. Memória, nostalgia e necessidade de se registrar algo que está na iminência de se perder aqui se fundem. Aïnouz ao mesmo tempo em que quer fazer uma breve viagem ao passado, pretende capturar com a sua lente o presente fluído e efêmero de suas tias carismáticas e excêntricas. O filme de Karim nos faz pensar que a sessão Primeiros Quadros é mais uma boa pedida para se assistir durante o festival.

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