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terça-feira, 11 de dezembro de 2007

E ainda tem a vista


Por Anna Azevedo

Na abertura do VI Araribóia Cine, em 23 de novembro, o secretário de Cultura de Niterói, André Diniz, anunciou que a prefeitura da cidade estuda o lançamento, em 2008, de um edital de apoio à produção cinematográfica.
"Puxa, finalmente" – pensei, cá com os meus botões niteroienses.

Niterói abriga aquela que durante décadas foi a única faculdade de cinema do Estado do Rio, e uma das raras do País, no Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense, o Iacs, na rua Lara Vilela, no Ingá.

O curso de cinema da UFF, que ganhou fama por ter, em seus quadros, Nelson Pereira dos Santos, diretor de clássicos como "Rio, Zona Norte" e "O amuleto de Ogum" é celeiro por excelência de profissionais que fazem e pensam a sétima arte. Basta lembrar que a revista "ContraCampo" é projeto de ex-alunos da faculdade de cinema de Niterói.

A cidade, cinematográfica que só, poucas vezes é cenário de filmes. "A lira do delírio" (1978), de Walter Lima Jr., é exceção. Vez por outra a TV e o cinema utilizam a Fortaleza de Santa Cruz, em Jurujuba, como set isolado, como em "Gregório de Mattos" (2003), de Ana Carolina. E só!

Niterói ainda ganhou um conjunto de obras assinadas por Oscar Niemeyer e que se descortina para a Baía de Guanabara revelando ângulos inusitados e que levam ao êxtase diretores de fotografia em visita. Tem as praias oceânicas, os morros, as pedras, o Parque da Cidade (a vista mais bela da Guanabara), os bairros antigos, os botecos pés sujos de verdade, cada vez mais raros no Rio, as quitandas, as residências com ar de subúrbio antigo, o casario histórico, a sua faceta moderna em Icaraí, as mansões, as favelas, gente legal pelas ruas, mulheres lindas batendo perna na Moreira César, rapazes idem, as barcas, as colônias de pesca, o porto, o mercado de peixe, histórias e mais histórias, enfim, tá tudo ali, com menos burocracia das metrópoles e mais facilidade para se planejar e executar uma produção – espero eu! E a 13 quilômetros do Centro do Rio ou a sete minutos de aerobarco.
Mas mesmo assim, nada é filmado lá.

A não ser películas publicitárias que deitam e rolam com as possibilidades visuais do Museu de Arte Moderna (MAC), o disco voador pairado sob a Praia de Boa Viagem, assinado por Niemeyer.

Mesmo nos três governos de Jorge Roberto Silveira, o prefeito cinéfilo, ex-crítico de cinema, o político que ousou exibir "Napoleon", de Abel Gance, em tela tríplitica, com a Orquestra Sinfônica da UFF, no Ginásio do Caio Martins, nada foi feito em torno do tema: transformar Niterói num pólo de produção cinematográfica.

Se Ribeirão Preto, no interior paulista, agora também tem a sua Film Comission, por que Niterói não teria? Grana por grana, a indústria naval está injetando uns bons reais em Niterói, uma das cidades de maior poder aquisitivo e qualidade de vida do Brasil.

Em números: Niterói ocupa o 12º lugar entre as cem melhores cidades brasileiras para negócios. No setor de petróleo, segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), 70% do parque instalado fluminense têm endereço na terra de Araribóia, desde empresas offshore a estaleiros. É o quarto PIB do Estado. Com esses indicadores, se não uma Film Comission, pelo menos o incentivo à produção audiovisual local...

E está aí o espanto maior: Niterói tem a Faculdade de Cinema da UFF. Todo ano, curtas são produzidos a duras penas pelos alunos que, sem grana, acabam fazendo de suas casa, de seus bairros, do jardim de seus vizinhos, os cenários de seus filmes para tudo ficar mais fácil, mais barato, mais simples. Como a maioria mora no Rio, os filmes da faculdade de Niterói acabam apresentando o Rio como cenário e rodam o País vendendo a imagem carioca. E não venham me dizer que o cinema não é um dos curingas da cadeia de turismo...

Isso me recorda o I Festival de Cinema de Belém, no Pará, em 2004. Não houve cineasta que, durante a estada na cidade, não tivesse tido vontade de filmar lá. Inclusive eu. Não se falava em outra coisa durante o festival inteiro: era um tal de diretor dizendo que teve uma idéia de um filme assim, outro assado, tudo filmado lá, na cidade das mangueiras e das pracinhas com seus coretos moldados na França, seu casario art-nouveau preservado, o Ver-o-peso, o Porto, o Parque Goeldi, o Círio de Nazaré etc etc etc.

Sendo assim, sempre me perguntei o porquê de a Prefeitura de Niterói não apoiar os filmes produzidos pelos alunos da UFF e outros, o que ajudaria – e como - a divulgar a cidade. Por que nunca se pensou num edital de apoio ao cinema numa cidade tão cinematográfica, com cenários prontinhos? Desta forma, películas poderiam ser filmadas parte, ou integralmente, na cidade, levando o nome de Niterói em seus créditos e a imagem da cidade na tela.

"Conceição", primeiro longa-metragem dos alunos da Federal Fluminense, rodou anos e anos em busca de apoio à finalização e nada! Na milésima tentativa junto à Riofilme, eis que a fita é lançada e teve boa repercussão na mídia. A Prefeitura de Niterói comeu mosca, pois todo mundo sabia que os "meninos" da UFF buscavam patrocínio para finalizar "Conceição", filmado em Niterói.

E educação e cultura, até onde se divulga, são pilares da Prefeitura de Niterói não é de hoje.

Finalmente chegamos ao fim de 2007 com o lançamento do selo Niterói Filmes, seja lá o que isto significa. E parece, vejam bem, "parece", segundo o secretário de Cultura, que vem aí um edital para documentários nos próximos meses.

Espero que o atual secretário de Cultura de Niterói não faça igual ao Ricardo Macieira, secretário das Culturas do Rio, que costuma subir ao palco do Festival do Rio para anunciar mundos e fundos jamais cumpridos. Entre eles, a volta do edital de curtas da Riofilme, que virou algo bissexto, trissexto, polissexto... sai quando dá na veneta do Prefeito. Uma pena!

Enquanto muitos estados possuem editais de apoio ao audiovisual, o Rio, a capital do cinema brasileiro, está a mingua. Ceará, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Distrito Federal, só pra citar alguns, estão aí, produzindo, produzindo com apoio dos editais públicos.

Tô achando que vai ter cineasta se mudando para o lado de lá (no meu caso, mais de cá do que de lá) da Baía de Guanabara no ano que vem...

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