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sexta-feira, 14 de março de 2008

Interpol tocando e a chuva caindo


Por Toinho Castro

O Interpol, essa é a verdade, tocou no Rio de Janeiro num dia de muita chuva, em que goteiras completavam o cenário mambembe da Fundição Progresso, o centro de shows e entretenimentos que nunca. Enquanto escrevo isso, no assim chamado dia seguinte, ainda chove e a bela "No I in threesome" toca no meu computador. Ontem e hoje, Interpol tocando e a chuva caindo. Apropriado.

Poucos momentos na existência breve sobre esse planeta comparam-se ao intante, logo antes de uma grande banda entrar no palco, em que as luzes se apagam, porque há coisas que só o rock'n'roll faz por você. O Interpol é uma grande banda, com seus três ótimos discos. Sim, que fique claro que eu gosto e que não me arrependo. Valeu todos os pingos de chuva que fui obrigado a a suportar, fora e dentro da arena, porque o concerto foi poderoso e belo. Estamos falando de uma banda de rock que flerta com os tais anos oitenta e, ao contrário de tantos, não vejo qualquer problema nisso. Não creio que haja problema em fazer música renascentista, porque haveria em dedicar-se às sonoridades por vezes soturnas, mas precisas e intensas de certos dias dos anos oitenta, pelo menos alguns daqueles dias?


"Pioneer to the falls" abriu o show, com a fotografia da capa do último disco, "Our love to admire", projetada no fundo do palco, como uma advertência sobre o amor e sobre crueldades similares. Não me pergutem o set list e coisas do gênero... que eu não saberia dizer. Sei que tocaram a pérola "No I in threesome", que ontem foi mesmo "Throught the storm and the lights...". Os membros da banda haviam embarcado conosco, o baterista fumava e empurrava a todos nós com seu ritmo incansável. Sei lá se ele é um bom baterista, não penso nessas coisa quando gosto de uma música.

Através da tempestade que vacinava a cidade contra o mau-olhado ouvimos o desenrolar de "NYC", que tem o verso "I know you've supported me for a long time / somehow i'm not impressed / Pace is the trick, Stella was a diver and she was always down" (aguardada com carinho) e "Rest my chemestry" (que me lembrou Raquel, lá no Recife... "You look so young, so sweet so surprised / you look so young, like a daisy in my lazy eye"). "Leif Erikson" me é particularmente querida e não posso escutá-la sem pensar em muitas coisas graves, importantes... sabe-se lá a razão. Eles tocaram "Leif Erikson" e eu estava lá, com meus amigos e se não é por isso que se vai a um concerto, então é melhor não ir. É melhor fazer outra coisa.


Nisso tudo havia o eco do Joy Division, percorrendo, mais que ao som do Interpol, a memória. A voz de Paul não é atormentada como a de Ian Curtis. É uma voz potente, de quem sabe o que está cantando, firme. Por vezes foi engolida pela péssima acústica dessa arena, que vou parar de criticar, mas voltava à tona luminosa, em belos versos e um coro que da platéia acompanhava cada linha. Os primeiros versos de "Evil", "Rosamary, heaven restores you in life..." foram coroados por essa sintonia, num grande momento do show.

Em "Not even jail", cheia de vigor, o show foi interrompido, em meio a olhares de desconcerto e surpresa da banda. Reza a lenda, alguém teria levado um choque no palco... o guitarrista? Por causa da chuva que insistia em cair sobre a banda, em homenagem, talve pouco apropriada, à sua melancolia. O show foi interrompido por tantos minutos, mas entre dúvidas sabíamos que eles voltariam. E voltaram com força total.


O bis com uma única canção, "Untitled", para a frustração de Lia, encerrou a estranha noite chuvosa. Havíamos atrevessado um mar denso, acinzentado mas cheio de beleza, como o que deve ter contemplado o velho "Leif Erikson" no seu rumo e que ainda deve contemplar, enquanto o Interpol toca sua música sobre a terra. Eu estava lá com meus amigos.

P.S.: Nem vou falar uma únca palavra sobre o Jamari França, que torceu o nariz, no blog dele para o show do Interpol. Ele prefere o Frejat. Tudo bem.


30 segundos inaudíveis do show do Interpol

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