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terça-feira, 1 de abril de 2008

Bem Comer: O gosto do torresmo


Por João Moraes*

Há várias qualidades a se apreciar em um torresmo e muitos são os tipos desse manjar suíno. Torresmo de barriguinha, torresmo crocante com faixas de carne torrada, compridos feito pequenas ripas, torresmos só de pele e banha e os magnânimos torresmos estilo Babaloo, que têm por dentro aquela bolsinha de gordura líquida. São esses que nos escorrem pelos cantos da boca, deixando as laterais inferiores da face, por mais que se esfregue o guardanapo, com aquele tom lustrado e o indefectível aroma de chiqueiro junto ao bafo. Recomendo, neste caso, a ingestão imediata e atabalhoada de uma vigorosa pinga, de modo que esta também escorra pelos mesmos lugares, disfarçando o cheiro de gordura crua.

Mas o que há de melhor nesses cubinhos de porco fritos em bacias de banha não está nem na consistência, nem no formato e nem mesmo no manejo pela hora da ingestão; bom mesmo em um torresmo é a ocorrência de cabelos.

Um torresmo com cabelos traz ao fruidor culinário o encontro com a roça brasileira; é uma verdadeira pílula sertaneja esse acepipe etnográfico. Um torresmo cabeludo quase nos faz sentir a picada ardente da muriçoca ou mesmo o ataque sem tréguas de borrachudos aos nossos tornozelos.

Ah, como são comoventes os sabores do interior brasileiro!

Torresmos jamais deveriam ser servidos sem um bom chumaço de pêlos. Esses são os torresmos que costumamos chamar de pega-rapaz.

Há que se recomendar ainda que os bons torresmos só são verdadeiramente bem preparados e servidos quando confeccionados em botequins cujos donos tenham gatos no depósito de bebidas, perto do banheiro. O cheiro da urina felina combina com as tessituras e as fragrâncias do bom torresmo, tornando-o um manjar verdadeiramente incomparável.

*João Moraes é cineasta e personal gourmet da Zé Pereira.

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9 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Grande Jôu!
Nunca mais comerei torresmo da mesma forma. Aliás, acho que nunca mais comerei torresmo (rs).

Abraços magros e sucesso na nova cozinha.

Henrique

1 de abril de 2008 às 11:58  
Blogger Val Becker disse...

Ui! Ainda bem que eu li isso antes do almoço...
Bom apetite, João
:)))

1 de abril de 2008 às 13:04  
Anonymous Anônimo disse...

Henri, não veja dessa forma. O torresmo é uma iguaria requintada que há muito merecia algum compêndio mais delicado como esse.
estão sempre preocupados com as formas e macetes para se pururucar o torresmo - e há várias formas de se atingir essa consistência a que chamam pururuca - mas esquecem o fundamental que são os aromas complexos que envolvem o desguste do torresmo, o ambiente propício para a fruição e ainda a cabelada por sobre a pele dura do porco.

1 de abril de 2008 às 14:57  
Anonymous Anônimo disse...

ninguém vai perguntar o que é torresmo estilo baballo não?

1 de abril de 2008 às 16:22  
Anonymous Anônimo disse...

Mas torresmo babaloo é aquele com uma deliciosa e refrescante surpresa de gordura crua por dentro.

1 de abril de 2008 às 16:56  
Blogger Unknown disse...

caro joão,
isso me fez lembrar o "torresmo prensado" - iguaria muito comum por aquelas vendas de castelo, interior do estado do espírito santo, e terra da boa e velha cachaça pouso alto.

2 de abril de 2008 às 12:24  
Anonymous Anônimo disse...

Mas ficaria meio estranho contar aqui na Zepereira que o torresmo, além de todas as qualidades relacionadas em minha Coluna do Bem Comer, também fosse vendido nas formas solto e prensado. É verdade, qualquer um pode chegar lá e pedir um quilo do prensado e sair ileso e sem paranóia com a pacoteira na bolsa. O prensado só não tem cabelo.Raios.

2 de abril de 2008 às 12:49  
Blogger Unknown disse...

Tem tb o torresmo chiclete, com autonomia de um ano mastigando todo dia o dia inteiro sem tirar da boca, o problema é a autonomia e a durabilidade da arcada dentária. Também já tive a sorte de pegar um torresmo acrescido de protéicas formigas vermelhas daquelas super mordedoras.

5 de abril de 2008 às 02:31  
Anonymous Anônimo disse...

è o torresmo brigadeiro.

Para torresmos chiclete sugiro a refritagem em gordura velha.Vai encharcar o bocado e renovar-lhe o sabor.

6 de abril de 2008 às 12:44  

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