Cultura predatória
Por Eduardo Souza Lima
Funciona mais ou menos assim: o prefeito tem, digamos, R$ 100 mil para gastar no São João. Contrata três bandas de fuleiragem music – ou forró eletrônico –, a R$ 30 mil cada, para tocar na cidade. Com os R$ 10 mil que sobram, ele enfeita a cidade e ocasionalmente paga as atrações locais. De bolsos forrados, o pessoal das bandas demonstra a sua gratidão sem o menor constrangimento. No bar onde eu estava ontem, aqui em Vitória de Santo Antão (PE), uma tela de plasma mostrava um show dos Aviões do Forró em Estância, Sergipe. O cantor do grupo vez por outra convidava para subir ao palco o prefeito Ivan Leite e o senador Albano Franco, ambos do PSDB – o DVD vira peça de campanha eleitoral bônus. Qualquer tentativa de se ouvir um som diferente é soterrada por toneladas de decibéis. Quando acaba a festa no palco, continua nos bares e restaurantes: parece ser obrigatório tocar só este tipo de música na região. E dá a impressão de haver uma disputa entres os estabelecimentos locais para ver quem tem o som mais potente. Assim vão se descaracterizando e uniformizando as festas juninas, vão se destruindo tradições.
As micaretas transformaram praticamente todos os carnavais do Nordeste em cópias de carnaval baiano – inclusive o baiano. Os conjuntos de fuleiragem music geralmente vêm do Ceará e, como os trios elétricos da Bahia, são criados por empresários - que são donos de emissoras de rádio e de gravadoras -, não por músicos. A maioria tem Forró no sobrenome, mas de baião, xote e xaxado só têm as letras de duplo sentido e a sanfona - que às vezes dá para ouvir entre os teclados eletrônicos e os metais. O ritmo que eles tocam, na verdade é uma mistura de axé music e breganejo. Geralmente no palco há um casal de cantores, ambos com vozes muito estridentes, luzes em profusão e bailarinas seminuas exibindo os seus dotes. Se alguém lucra com a pirataria são eles: os camelôs são uma forma de difusão mais eficaz do que o rádio. Praticamente todos têm TVs para exibirem seus DVDs, e ambulantes andam pelas cidades empurrando seus carrinhos de CDs com som ensurdecedor. Não há escapatória.
Cada um ouve o que quer, é claro; o problema é obrigar o outro a ouvir o que não quer. Isso é totalitarismo cultural. Essas ondas costumam ser passageiras - a próxima pode vir do Maranhão, de São Paulo ou do Rio Grande do Norte -, mas os seus efeitos devastadores, não. Por onde elas passam, resta apenas terra arrasada.
Funciona mais ou menos assim: o prefeito tem, digamos, R$ 100 mil para gastar no São João. Contrata três bandas de fuleiragem music – ou forró eletrônico –, a R$ 30 mil cada, para tocar na cidade. Com os R$ 10 mil que sobram, ele enfeita a cidade e ocasionalmente paga as atrações locais. De bolsos forrados, o pessoal das bandas demonstra a sua gratidão sem o menor constrangimento. No bar onde eu estava ontem, aqui em Vitória de Santo Antão (PE), uma tela de plasma mostrava um show dos Aviões do Forró em Estância, Sergipe. O cantor do grupo vez por outra convidava para subir ao palco o prefeito Ivan Leite e o senador Albano Franco, ambos do PSDB – o DVD vira peça de campanha eleitoral bônus. Qualquer tentativa de se ouvir um som diferente é soterrada por toneladas de decibéis. Quando acaba a festa no palco, continua nos bares e restaurantes: parece ser obrigatório tocar só este tipo de música na região. E dá a impressão de haver uma disputa entres os estabelecimentos locais para ver quem tem o som mais potente. Assim vão se descaracterizando e uniformizando as festas juninas, vão se destruindo tradições.
As micaretas transformaram praticamente todos os carnavais do Nordeste em cópias de carnaval baiano – inclusive o baiano. Os conjuntos de fuleiragem music geralmente vêm do Ceará e, como os trios elétricos da Bahia, são criados por empresários - que são donos de emissoras de rádio e de gravadoras -, não por músicos. A maioria tem Forró no sobrenome, mas de baião, xote e xaxado só têm as letras de duplo sentido e a sanfona - que às vezes dá para ouvir entre os teclados eletrônicos e os metais. O ritmo que eles tocam, na verdade é uma mistura de axé music e breganejo. Geralmente no palco há um casal de cantores, ambos com vozes muito estridentes, luzes em profusão e bailarinas seminuas exibindo os seus dotes. Se alguém lucra com a pirataria são eles: os camelôs são uma forma de difusão mais eficaz do que o rádio. Praticamente todos têm TVs para exibirem seus DVDs, e ambulantes andam pelas cidades empurrando seus carrinhos de CDs com som ensurdecedor. Não há escapatória.
Cada um ouve o que quer, é claro; o problema é obrigar o outro a ouvir o que não quer. Isso é totalitarismo cultural. Essas ondas costumam ser passageiras - a próxima pode vir do Maranhão, de São Paulo ou do Rio Grande do Norte -, mas os seus efeitos devastadores, não. Por onde elas passam, resta apenas terra arrasada.
Marcadores: Chamando na chincha, Música
1 Comentários:
Zé, tu não vai dar nada do Dantas?
E vais manter o linque pro Imprensa Marrom? Desde que o Nassif botou a Janaína Leite no meio do Dossiê Veja, o cara virou fã do Mainardi.
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