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sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Invisível


O artista sul-coreano radicado em Nova York Shin Il Kim está fazendo sua primeira exposição no Brasil na Galeria do Lago do Museu da República, no Catete. "Não-Imagem", que tem curadoria de Daniella Géo apresenta as obras "TVEnlightenment" (foto), "In Between", "Door" e um site-specific nos quais o artista trabalha a noção da invisibilidade. A exposição poderá ser vista até 10 de fevereiro de 2008 e a entrada é franca. Amanhã, às 17h, o artista vai fazer uma palestra sobre seu processo criativo no Espaço Multimídia, com a participação da curadora.

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Sessão da Tarde: "A lasanha assassina"




It's alive! Um desenho animado de Ale McHaddo.

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O CCBB precisa se ligar

Por Estevão Garcia

Ontem aconteceu a última das três conferências dadas por Jodorowsy no CCBB. A demanda foi tão grande que na palestra de quarta muita gente não conseguiu entrar na sala de cinema, tendo que se contentar em vê-la num telão instalado no saguão. Ontem, a estratégia foi mais democrática. Optou-se por, ao invés de uns verem ao vivo e outros no telão, mudar o local da conferência. Do cinema ela foi transferida para a biblioteca. Sábia decisão, porque a sala de cinema do CCBB é realmente muito pequena e o centro cultural precisa ficar ciente que isso é uma imensa limitação. Essa é uma questão que o CCBB necessita resolver, as mostras que lá acontecem apenas usam o local. Os debates e as paletras de cinema, em casos como esses, precisam ocupar os outros espaços do centro cultural, como os auditórios e a sala da biblioteca.

Outro sistema que o CCBB adota há anos, mesmo sabendo de suas deficiências e de seus problemas, é o de distribuição de senhas. Sempre quando há uma sessão de cinema seguida de debate acontece a mesma confusão. Muitas pessoas não querem ou não podem ver o filme e só desejam assistir ao debate. Outras já viram o filme e também só querem assistir ao debate. Há algum problema nisso? Acontece que para assistir ao debate você precisa apresentar o ingresso do filme. Então a pessoa que foi ao CCBB só para assistir à conferência do Jodo na quarta ficou a ver navios. O CCBB assim estimula o público a fazer o seguinte: chegar bem mais cedo, comprar o ingresso da sessão e só voltar na hora do debate. É preciso urgentemente pensar em outro sistema. Se não as brigas e os bate-bocas entre os freqüentadores do CCBB e seus funcionários serão infinitas.

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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Na próxima quarta tem Cachaça Cinema Clube Especial


Na próxima quarta-feira, dia 5 de dezembro, às 21h, no Cine Odeon, tem sessão com os filmes vencedores do 1º Prêmio Cachaça Cinema Clube Internacional. Eles são: "China, china" (de João Pedro Rodrigues e João Rui da Mata, Portugal), "Lição de violão" (de Martin Rit, França), "A ocupante" (de Elise Simard, Canadá), "Amin" (de David Dusa, França), "O lobo branco" (de Pierre-Luc Granjon, França),"Tudo vai dar certo" (de Don Hertzfeldt, EUA). Em 2007, o Cachaça teve uma participação ampliada no Curta Cinema. Além da tradicional sessão dentro da programação oficial do festival, este ano, pela primeira vez, o júri do cineclube também concedeu o Prêmio Cachaça Cinema Clube. É uma novidade em todos os aspectos, uma vez que a premiação foi para os melhores curtas estrangeiros. Por esse motivo, a próxima sessão será a segunda ocasião em que o Cachaça exibirá apenas filmes realizados em outros países. Essa é uma ótima maneira de colocar em perspectiva, diante de um grande público, a própria produção nacional de curtas e assim tentar enquadrá-la em um contexto mais amplo e entender suas especificidades. Depois da sessão, vai rolar distribuição de cachaça e a clássica confraternização ao som do DJ Marco Dreer e convidados.

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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A hora do Angu de Ouro


O cineclube Mate com Angu, de Duque de Caxias, faz hoje à noite a entrega dos prêmidos Angu de Ouro 2007. Os filmes concorrentes são "O som e o resto", de André Lavaquial (RJ), "Cascadura", de Felipe Cataldo e Godot Quincas (RJ), "Rapsódia do absurdo", de Cláudia Nunes (GO), "A noite do vampiro, de Alê Camargo (DF), "Fernando Birri de olhos abertos, da Raça Filmes (RJ), "Amor só de mãe", de Denison Ramalho (SP), "Tchau pai", de Ricardo Machado (PR), e "TV is over", de Alexandre Gwaz (RJ). Às 19h sai um ônibus para lá da Rua do Passeio, em frente à Escola Nacional de Música.

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Jodorowsky contra o Super-Homem sem falo



Por Estevão Garcia

Em sua conferência sobre HQs realizada ontem no CCBB, Jodorowsky começou metendo pau nos quadrinhos americanos e em sua obsessão por super-heróis. Afirmando categoricamente que "os super-heróis americanos são hipócritas", Jodo, para a alegria da platéia, fez uma série de piadas sobre o fato desses heróis terem que ser necessariamente assexuados. Criticou a ausência de falo no Super-Homem: "ele não tem nada entre as pernas, é liso, parece uma boneca". Convencido de que é realmente complicado alguém que se chama Super-Homem não apresentar testículos, Jodo sugere algumas imagens interessantes quando por acaso um dia ele tiver órgãos genitais. Uma delas é a descrição detalhada de uma super-penetração, onde o super-pênis do herói ao entrar na vagina de sua amante sairia pelas suas costelas e depois pelo crânio. Outra especulação relacionada sobre a hipotética colocação de sexualidade, logo, de humanidade nos super-heróis, foi em torno da Supergirl. Jodorowsky quis imaginar como seria o fluxo menstrual da heroína. Ficou claro que em uma vez por mês teríamos uma enchente de sangue em Metrópolis.

Abrigado comodamente pelo mercado europeu de HQs, Jodo não ficou só na crítica aos quadrinhos americanos. Falou um pouco sobre as suas primeiras experiências nas narrativas gráficas, que ao contrário do que muitas pessoas pensam, não se deu com Moebius. Em 1968, devido ao escândalo ocasionado pela exibição de "Fando y Liz", Jodo foi proibido de trabalhar com cinema no México. A sua saída foi pedir um emprego como cartunista para um amigo jornalista que trabalhava no "El Heraldo de México". Começou assim a série "Fábulas Pánicas", que além de roteirizar, Jodo também desenhava. Com um sorriso no rosto, o palestrante afirmou que hoje ele tem vergonha de seus desenhos: "eram muito ruins". Na época ele se julgava um bom desenhista, "mas quando vi Moebius, desisti de desenhar".

Essa declaração de que a sua entrada nos quadrinhos se deu principalmente porque o seu trabalho na área em que queria atuar estava bloqueado, não deixa de ser elucidativa. Jodorowsky deixa subentendido que essa primeira proibição de filmar ocorrida no México no final da década de 60 foi continuada, através de diferentes roupagens, ao longo de sua carreira. Uma dessas roupagens é o sistema de produção industrial. Inserido na engrenagem de uma superprodução ao desenvolver o projeto de "Duna", Jodorowsky mais uma vez, agora devido a problemas com o produtor, foi impedido de filmar. E da mesma forma que o fracasso de "Fando y Liz" o fez ser cartunista de jornal e desenhar as "Fábulas Pánicas", a não realização de "Duna" o fez iniciar com Moebius a série "Incal" e entrar no circuito intercional de HQs. Os quadrinhos, diferentemente do cinema, são para Jodorowsky sinônimo de realização e de viabilidade. Jodo diz: "Tudo o que eu não consegui fazer em cinema, eu fiz em HQs". O autor declara estar muito feliz com o sucesso de seu trabalho como quadrinista, porque além de lhe garantir uma boa fonte de renda, nele é possível criar sem ser obrigado a fazer concessões.

Jodo diz que a HQ é uma "arte industrial", característica que lhe possibilita ganhar bem e viver desse trabalho. Porém o cinema já não é visto dessa forma. Jodo recusa a característica industrial do cinema e ao mesmo tempo em que procura se desvencilhar de um cinema mega-empresarial e infestado de stars, a maioria de suas idéias demanda muita produção. "La montaña sagrada" por exemplo, jamais poderia ter alcançado aquele resultado final se não tivesse tido um forte aparato de produção e um orçamento consideravelmente alto por trás. Talvez por isso as suas idéias encontraram nos quadrinhos uma maior viabilidade de execução. O cinema é uma arte muito mais cara e os seus riscos de prejuízo são bem maiores. Ciente disto, Jodorowsky no final da palestra revelou que vai filmar no ano que vem "Psicomagia", um filme feito justamente para "perder dinheiro". Ele há anos está juntando uma boa soma para poder finalmente realizar um filme sem se preocupar com o lucro. O filme será gratuito e terá a sua estréia na Internet. Se a Internet foi o meio responsável por sua "redescoberta" depois de décadas tendo os seus filmes proibidos de serem vistos pelo produtor Alan Klein, a Internet também será a difusora de seu retorno ao cinema.

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Priscila Andrade e Adriana Cataldo convidam


Como diriam Vilma Flintstone e Betty Ruble, "àààààààààààs... compras!"

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Os premiados do Festival de Brasília


Por Estevão Garcia

"Cleópatra", de Julio Bressane foi o grande vencedor do 40° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O filme ganhou seis prêmios, incluindo melhor filme, melhor atriz, para Alessandra Negrini (foto), e fotografia, para Walter Carvalho. "Chega de saudade" (de Laís Bodansky) ganhou os Candangos de direção, roteiro e júri popular. "Meu mundo em perigo" (de José Eduardo Belmonte) ficou com os prêmios de ator, para Eucir de Souza, ator coadjuvante, para Milhem Cortaz, e o Prêmio da Crítica."Anabazys" (de Paloma Rocha e Joel Pizini),filme sobre o "A idade da Terra", ganhou o Prêmio Especial do Júri e melhor montagem. "Falsa loura" (de Carlos Reichenbach), continuação de "Garotas do ABC", faturou o Candango de melhor atriz coadjuvante, para Djin Sganzerla.

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terça-feira, 27 de novembro de 2007

Bastidores



Fotos: Álvaro Riveros



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Jodorowsky finalmente no Brasil


Por Estevão Garcia
Foto: Álvaro Riveros

Ontem, a noite de autógrafos de Jodorowsky estava marcada para às 20:00h, porém, Jodo tinha chegado ao CCBB um pouco mais cedo. Na porta do centro cultural já havia alguns fãns que o aguardavam ansiosamente. Este senhor (foto) foi um dos primeiros a pedir uma assinatura do cineasta.

Embora tendo viajado ao redor do mundo várias vezes, Jodo nunca tinha viajado ao Brasil. Este primeiro contato com o país começou ontem e será continuado ao longo das edições da mostra no CCBB de São Paulo e de Brasília.

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segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A gravata do Jodo


Por Estevão Garcia

Ver "A gravata" (de Alejandro Jodorowsky, França, 1957) é acima de tudo uma experiência curiosa. Digo curiosa porque além de ter os seus méritos, o curta-metragem é um excelente registro de uma determinada fase da trajetória do artista. Em 1953 Jodo deixou o Chile e entrou em um navio rumo à França especialmente para estudar com o famoso mímico Marcel Marceau. Sem sequer saber falar uma palavra de francês e com apenas algumas notas de dólares no bolso, Jodo embarcou nessa aventura motivado pelo sonho de ser como Marceau, um grande mestre da pantomima. Depois de comer o pão que o diabo amassou nas ruas de Paris e de ter trabalhando em todos os empregos possíveis, o jovem Jodo finalmente conseguiu juntar o dinheiro suficiente para estudar com o importante mímico. Infelizmente a pantomima não é que nem o cinema, portanto apenas os que estavam em Paris ao longo da década de 50 puderam assistir ao vivo o trabalho de Jodorowsky com Marceau. A nós, que não somos franceses e que não vivemos àquela época, resta apenas ver "A gravata". Aqui podemos conferir o Jodorowsky mímico. Tudo o que ele aprendeu com Marceau, ele coloca nesse interessante curta-metragem.

Certamente para a maior parte das pessoas que o assistiram nos últimos dias no CCBB, ele parecerá meio fora de lugar na filmografia de Jodorowsky. De fato a diferença entre "A gravata" e "Fando y Liz" é tremenda. Jodo no intervalo de dez anos que os separa vai da pantomima diretamente à vanguarda. Marcel Marceau sai um pouco de cena e entram Fernando Arrabal e Roland Topor. A expressão do Movimento Pânico estava estão em seu auge e às brincadeiras lúdicas presentes em "A gravata" foram acrescentados três elementos básicos: terror, humor e simultaneidade. Porém, é possível fazer relações entre esse curta e os demais filmes do autor. Afinal, se a pantomima é uma arte em que o corpo assume o papel principal, o corpo continuou sendo fundamental em sua filmografia. Até hoje, Jodorowsky ao falar de seus filmes afirma que se outros diretores filmam com os olhos, ele, filma com os testículos. Certa vez perguntaram o que ele achava de Godard. Jodo então responde: "Godard não tem nada haver com o meu cinema. Ele é um grande intelectual, eu não. Godard tem apenas um testículo, eu tenho três: intelecto, emoção e libido". Logo, constatamos que o cinema de Jodorowsky é essencialmente um cinema corporal. Mais do que interagir com o espectador pelo intermédio da razão, Jodo o agarra pelo instinto.

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Jodorowsky para todos os gostos




A partir de amanhã e até quinta-feira, sempre às 19h, vão rolar no CCBB os encontros de Jodorowsky com o público. Amanhã o tema do debate será o seu trabalho no universo dos quadrinhos. O autor, que roteirizou HQs para grandes desenhistas como Moebius, Zoran Janjetov e Milo Manara, discursará em torno de sua experiência na elaboração de clássicos como "Olhos de gato", "Os Bórgia" (foto) e "Incal". Na quarta, depois da exibição em película de "Santa sangre", a conversa será sobre a sua obra cinematográfica. O autor tornará público o processo de realização de filmes como "El Topo" e "La Montaña Sagrada". Na quinta, às 15h, será exibido pela primeira e única vez na mostra o documentário "Alejandro Jodorowsky: conversações sobre as vias do Tarô" (de Giuseppe Baresi, Itália, 2007). O filme é baseado no livro "As vias do tarô", de Jodorowsky, e acompanha as viagens de Jodo pelo mundo registrando suas sessões de psicomagia. O vídeo será nesse dia o aperitivo para a conferência dedicada à arte do tarô.
Quadrinhos, cinema e tarô.
Nesta semana, tem Jodorowsky pra todo mundo!

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OK Computador


Por Eduardo Souza Lima

Zémaria não faz música pra gringo ouvir e talvez isso explique o sucesso que o grupo capixaba está fazendo lá fora. Vindos de mais uma turnê pela Europa (dá pra ver no YouTube o documentário feito lá pela produtora Mirabólica) Nego Léo (bateria), Marcel Dadalto (sintetizadores, guitarra e programação), Michel Sponfeldner (baixo) e Sanny Lys (voz e efeitos) lançam seu novo CD, "11 trax". Além de músicas do EP "Aqui não tem silêncio", lançado exclusivamente no site da banda, o disco traz quatro faixas inéditas, "Air talk", "Laser eyes" (videoclipe abaixo), "Buenas" e "Someone else". Sanny agora também canta em inglês, para facilitar a vida dos fãs estrangeiros. Por enquanto só dá pra comprar o álbum pela internet, mas Marcel promete que em breve ele estará nas melhores casas do ramo. Eu bati um papo com o camarada, que também está fazendo sucesso além-mar com o seu projeto-solo Monk Ponk.





Como você definiria o som do Zémaria?
Rock de computador. Engraçado que muita gente acha que a gente é DJ porque mexe com música eletrônica. Na real, a nossa formação é totalmente musical. A gente já teve várias bandas de rock, pós-punk, hardcore... Só que dos estúdios de ensaio e das garagens a gente foi pra dentro de um quarto com um computador. Vendi a guitarra e comprei um sintetizador.

O novo disco tem músicas em inglês porque vocês estão de olho mercado exterior?
De certa forma sim. A gente tem tocado bastante na Europa. Já foram aí três turnês que somam mais de 70 shows lá fora. E lá fora, se a gente canta em português é rotulado de world music na hora. E world music não é a nossa. A gente tá mais pro electro-rock... algo assim. O legal do inglês é que ele funciona em todos os países que a gente vai. Na Alemanha, na França e até em Portugal.

Como está sendo feita a distribuição do disco aqui e no exterior? Algum selo vai cuidar - ou está cuidando - disso lá fora? Como comprar o disco aqui no Brasil?
Estamos apostando na distribuição online. Temos um empresário na Alemanha e em Portugal cuidando disso. Aqui no brasil a gente prensou mil cópias em CD que acabaram em semanas com vendas nos próprios shows da banda. Vamos para a segunda prensagem e ai sim vamos vender nas lojas de todo o Brasil.

E o disco de vinil do Monk Ponk?
Eu fiz uma página no Myspace e um DJ famosinho lá da Alemanha ouviu a música lá, não sei como, e entrou em contato comigo. Resultando daí o lançamento em vinil de três músicas minhas. É um projeto mais calminho, e mais eletrônico, cabeçudão. É uma ressaca do meu trabalho com o Zémaria. Acho bom ter projetos paralelos porque eles ajudam um ao outro.

Como foi a última excursão pela Europa? Onde vocês tocaram? Que tipo de lugar Boates, clubes, festivais?
Foi a melhor de todas. A gente viajou com amigos que são videomakers e registraram toda a viagem. Acabamos fazendo um programa de TV sobre as aventuras de uma banda brasileira na Europa. Da pra ver no YouTube. A gente tocou em várias cidades da Alemanha, Portugal, França e Inglaterra. A receptividade é ótima. Principalmente porque a gente costuma viajar sempre no verão, e os europeus estão sempre muito pilhados nessa época do ano. Tocamos em todo tipo de lugar: em praias, campeonato de surf, clubs hypados, festivais, ao lado de grandes artistas como Jamie Lidell, Señor Coconnut, Cold Cut, Yellowman... e tambem tocamos em alguns inferninhos clássicos.

Como a galera costuma receber vocês lá fora? Algum desavisado acha que é um grupo de pagode - por causa do Brasil e do nome Zémaria?
Hahahahaha... não, isso nunca aconteceu não. Até porque as atrações lá são muito bem explicadas para o público.

O que vocês gostam de ouvir?
Dub, reggae, jazz, drum 'n' bass, hardcore, rock, minimal, house music, IDM... e as músicas que saem aqui no meu estúdio.

E como estão os projetos-solo?
Além do Zémaria, eu toco na banda Telepathique, tenho o meu projeto Monk Ponk e o Hot Tape com meu amigo DJ Periférico, de São Paulo. Tenho um estúdio, o Asimov, onde produzo minhas coisas e trabalho como sound designer fazendo trilhas para TV e cinema. Músico é malabarista, tem que se virar de várias formas.

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Sessão da Tarde: "Documentário"




O curta "Documentário" (1966), estréia de Rogério Sganzerla na direção, é um filme de ficção.

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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Fadas infladas no Jardim Botânico


Por Anna Azevedo

Era uma vez uma dupla, meninas brasileiras superpoderosas. Luiza Leite é poeta e roteirista; Tatiana Podlubny é desenhista. Ambas gostam de fabular e brincar com tinta. Na cachola, muitas idéias. Uma delas virou livro: "A fada inflada". Um livro-artesanato, uma pequena obra-prima. Para ser lido e para ser ler por/para crianças dos 3 aos 116. Feito com o superpoder de arregaçar as manga e produzir. Exemplo de um novo, criativo, independente modelo de produção que se viabiliza com o patrocínio do público-alvo. Como na compra de um apartamento na planta: paga-se as intermediárias, financia-se a obra. Foi assim. Nada de esperar editora, patrocinador. Idéia no papel, pintada em letra e em aquarela, difícil não se encantar. A boa nova se espalhou pela Internet. O blog do livro é um sucesso. As meninas super-poderosas acertaram em cheio. E os leitores que investiram no vale-livro também. Amanhã, na Pracinha Pio XI, no Jardim Botânico, "A fada inflada" será lançado com festança, fábulas e música. "A fada inflada" é o primeiro projeto editorial da Rabiola. E vem muito mais idéias bacanas por aí que vão virar realidade pelas mãos da Luiza e da Tatiana. Quem quiser saber um pouco mais sobre o projeto "A fada inflada", ler um pouquinho, adquirir o livro, conversar com as escritoras-ilustradoras, acesse o blog http://www.afadainflada.blogspot.com.

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A circulação de Jodo no Brasil


Por Estevão Garcia

Eu ainda não fiz uma pesquisa mais detida sobre a distribuição da obra cinematográfica de Jodorowsky no Brasil, mas segundo informações do pesquisador Hernani Heffner, que fez esse levantamento e inclusive escreveu sobre o assunto no catálogo da mostra, ela foi praticamente nula. Hernani afirma que tanto nos canais tradicionais de circulação de bens culturais (o mercado exibidor) quanto no chamado circuito "alternativo", Jodorowsky a rigor não existiu. Se pensarmos no Jodorowsky quadrinista a difusão foi um pouco diferente. Em 1987 a editora Martins Fontes lançou a graphic novel "Os olhos do gato" (1978) para um público bastante específico. Jodo a partir de então se tornou um nome conhecido entre os fãs brasileiros de HQs. "Olhos do gato" só foi publicado no Brasil após nove anos de seu lançamento francês, o que atesta que até em relação à arte em que Jodo é mais conhecido no país, nós estamos atrasados. A informação de que o parceiro do grande desenhista Moebius era também cineasta despertou nos fãs de suas HQs a curiosidade de travar contato com os seus filmes. Mas, como isso poderia ser feito? Ao brasileiro que nos anos 80/90 queria assistir a algum filme do Jodorowsky, era viável apenas a atitude de acender uma vela e rezar para que um dia eles aportassem por aqui.

Não havia meios de acesso ao cinema de Jodorowsky. O seu único filme que foi exibido no Brasil mais ou menos na mesma época de sua estréia "mundial" foi o "Santa sangre" (México/Itália, 1989). Esse filme passou por aqui no Fest-Rio de 1990 dentro de uma mostra paralela dedicada ao cinema experimental. Nela tinha um segmento focado no cinema experimental latino-americano e, ao lado do cineasta brasileiro Artur Omar e do venezuelano Diego Ríquez, estava lá Alejandro Jodorowsky com o seu mais novo filme. Nesse mesmo ano, "Santa sangre" foi projetado na Mostra Internacional de São Paulo, tendo parca repercussão na imprensa. Portanto, na época de lançamento de seus três primeiros filmes: "Fando y Liz", em 1967, "El Topo", em 1969, e "La Montaña Sagrada" (foto), em 1973, o Brasil ficou completamente de fora. Isso prova que nesse período nem a crítica e nem os realizadores brasileiros tomaram conhecimento da obra de Jodo. Há, sim, depoimentos de amigos de Glauber que contam que no inicio dos anos 70 ele teria visto "El Topo" em Nova York e ficado maravilhado. Porém, mesmo que verdadeiras, isso são apenas histórias. Não há um documento escrito, um artigo ou um ensaio de Glauber que as comprove concretamente.

Após o Brasil ter ficado tanto tempo longe da possibilidade de interagir com a filmografia de Jodo, acontece nos anos 2000 uma revolução: a opção de baixar filmes pela internet. Ficou sendo possível através de programas como o Emule, baixar todos os filmes de Jodorowsky. Os jovens que hoje celebram a sua obra só puderam conhecê-la através da internet. Não podemos deixar de mencionar que quando saiu na Europa no final dos anos 90 uma primeira edição dos dois primeiros filmes de Jodo, o Julio da Polyteama os comprou e os disponibilizou em sua locadora. Porém, nessa época, a Polyteama já era uma locadora restrita a poucos associados. As locações eram solicitadas por telefone e o próprio Julio as entregava na casa de seus clientes. Para você se associar era necessário que você fosse indicado por algum sócio. Então, o acesso ainda estava concentrado em alguns poucos eleitos escolhidos a dedo. Mesmo que nessa ocasião os filmes de Jodo tivessem sido disponibilizados por uma locadora que qualquer um podia se tornar sócio, o seu grau de difusão ainda assim seria limitado. Uma locadora especializada como a locadora do Estação ou a Cavídeo por exemplo, abastecem somente ao público interessado do Rio de Janeiro, mas especificamente da Zona Sul. Agora, com a internet, é possível ter acesso aos filmes de Jodo no Acre, no Ceará, no Amapá, em Tocantins, em suma, em qualquer ponto do Brasil. A internet e o Festival do Rio do ano passado foram sem dúvida, os propiciadores da "redescoberta" de Jodorowsky.

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Curtas em Niterói


Começa hoje o VI Araribóia Cine, festival de curtas organizado pela cineasta e professora da UFF Tetê Mattos. Na sessão de abertura, às 20h, no Cine Arte UFF (Rua Miguel de Frias, 9, Icaraí, Niterói) serão exibidos os curtas "O homem-livro", de Anna Azevedo, "O som da luz do trovão", de Tiago Scorza e Petrônio Lorena, "Cine Zé sozinho", de Adriano Lima, e "Oficina Perdiz", de Marcelo Diaz. Em seguida, haverá um debate com os realizadores e a pesquisadora Mariana Baltar e o filósofo Chico Feitosa. O festival vai até o dia 29 e a entrada é franca. A programação completa está em www.uff.com.br/centroarte.

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Crônicas de sábado com samba


O grande Luís Pimentel, jornalista, cronista e humorista que nos dá a honra de ser colaborador da Zé Pereira, convida os leitores para o lançamento de seu novo livro, "Noites de sábado e outras crônicas cariocas" - do qual publicamos em nosso site, em primeira mão, "A primavera baixou no meu buteco" -, amanhã, a partir das, 13h, na Livraria Folha Seca (Rua do Ouvidor, 37). Zé Luiz do Império comanda a roda de samba e também lança o CD "Malandros maneiros".

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Curtas na Urca


O Cineclube Curta o Curta, que acontece no Ateliê da Imagem (Avenida Pasteur, 453, Urca), exibe hoje, a partir das 20h, "O Lobinho nunca mente", de Ian SBF (foto, prêmio de melhor direção do 14º Vitória Cine Vídeo), "A vida de Grace", de Silas Matos e Ângela Durans e "A espera", de Fernanda Teixeira. A entrada é franca e haverá um debate com os diretores depois da sessão.

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Sessão da Tarde: "Meow"




Desenho animado de Marcos Magalhães, Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes de 1982.

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A Zé Pereira no além-mar


A Zé Pereira mereceu uma alentada crítica no blog Alhos Vedros ao Poder!, de Alhos Vedros, vila medieval do sul de Portugal. Leia aqui.

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Musical armorial


Começa amanhã a temporada de "O baile do Menino Deus" na Fundição Progresso (Rua dos Arcos 24, telefone 2533-0224). O espetáculo, um auto de Natal musical, é um clássico da dramaturgia nordestina escrita por Ronaldo Correia Brito e Francisco Assis Lima, com trilha sonora de Antônio José Madureira - um dos fundadores do Quinteto Armorial. A direção é de Cibele Santa Cruz e Paulo Horta e a peça fica em cartaz aos sábados e domingos às 17h.

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quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Múltipla escolha




Alguém que afirme que os cubanos não trabalham usando o argumento de que seus leitores já compraram tênis "made in Malasya" e coisas produzidas nas Filipinas, em Singapura, no Ceilão (sic) etc. mas nunca conseguiram achar em alguma vitrine sequer um grampo "made in Cuba" é:
a) Maluco
b) Ignorante
c) Inconseqüente
d) Mal-intencionado
e) Um neoliberal que acredita que o sistema econômico ideal para o Brasil é o da China

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Sessão da Tarde: "Heureca!"




A necessidade é a mãe da invenção.

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Místicos e míticos


Por Estevão Garcia

"El Topo" (México, 1969, foto) e "La Montaña sagrada" (México/Eua, 1973) se converteram ao longo da década de 70 em verdadeiros objetos de culto. Tendo sido realizado depois de "Fando y Liz" (México, 1967), "El Topo" sinaliza uma nova guinada na filmografia do autor. Essa nova guinada não exclui as principais influências e a base da formação intelectual de Jodorowsky (surrealismo, teatro do absurdo, happening, Teatro da Crueldade de Antonin Artaud, Luis Buñuel) e sim os amplia absorvendo outras informações. Podemos afirmar que "Fando y Liz" é ainda um filme 100% vanguardista, um autêntico puro-sangue da vanguarda que estabelece pontes tanto com a vanguarda cinematográfica dos anos 20 (Jean Cocteau, os três primeiros filmes de Buñuel) quanto a vanguarda teatral dos anos 50/60 (Eugène Ionesco, Samuel Beckett, Fernando Arrabal). Fernando Arrabal é um nome de extrema importância na trajetória de Jodorowsky porque além ter sido co-fundador do Movimento Pânico, é o autor da peça "Fando et Liz" (1955), que deu origem ao seu primeiro longa-metragem. Essa peça, inclusive, já tinha sido levada aos palcos mexicanos por Jodorowsky causando estrondosas polêmicas. A partir de "El Topo" os elementos reunidos e expressos em "Fando y Liz" se misturam com a psicodelia-místico-pop em um mesmo caldeirão.

O ano era 1969, ano de woodstock, a contracultura estava então em seu auge. Astros do rock and roll como Jimi Henrix e Jim Morris se declaravam místicos. Bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath se direcionavam para o ocultismo e tomavam o mago Aliester Crowley como guru. Os Beatles optam pelo misticismo oriental e realizam nesse momento a sua famosa viagem à Índia. Esses são apenas alguns exemplos de uma extensa lista que atesta a incorporação do misticismo pela cultura de massa na passagem dos anos 60 para os 70. Porém, não é só o universo pop que experimenta nesse período esse "desbunde místico", como também grande parte da intelectualidade mundial. Muitos estudiosos compreendem esse deslocamento para o misticismo como uma resposta ao engajamento político-ideológico da década de 60. A ressaca dos anos 60 teria, segundo eles, provocado essa atitude nos 70. Independente se a onda das ciências ocultas tiver sido ou não uma resposta à militância, o fato é que Jodorowsky sempre trilhou por um caminho oposto ao do "engajamento", pelo menos da forma como ele foi compreendido ao longo dos anos 60. O misticismo presente em "Fando y Liz" e de maneira muito mais acentuada em "El Topo" e "La montaña sagrada" não foi totalmente uma afronta porque Jodorowsky nunca foi e nunca quis ser um "cineasta político".

"El Topo" será exibido hoje em película no Festival Jodorowsky às 17:00 h seguido de debate com Pedro Camargo, Fabian Nuñez e Estevão Garcia. "La montaña Sagrada" passará amanhã, também em película, às 19h.

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quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Jodo e a constelação



Por Estevão Garcia

Louis Mouchet em seu documentário "A constelação Jodorowsky" parte da evidência de que Alejandro Jodorowsky é um artista múltiplo. Tal constatação reforça a idéia de que qualquer filme que almejar entrar no mundo criativo de Jodorowsky precisará fazê-lo de maneira ampla. Ou seja, um documentário sobre Jodorowsky necessariamente deverá abranger todas as suas áreas de atuação: pantomima, teatro, cinema, quadrinhos, tarô e psicologia. O universo de Jodorowsky é um só e ele é composto por todas essas formas de expressão. Fazer um documentário apenas sobre o Jodorowsky cineasta ou o Jodorowsky quadrinista seria algo inviável por ser uma atitude extremamente redutora e incompleta. O próprio título do filme sugere o caráter multifacetado do artista. Jodorowsky não seria um astro e sim uma constelação formada por várias peças brilhantes que representariam justamente cada uma de suas diversas ferramentas artísticas.

"A constelação Jodorowsky" opta por seguir uma ordem cronológica em relação às áreas de atuação de Jodo, da pantomima a psicomagia. O documentário se centraliza em uma longa entrevista realizada no escritório de Jodorowsky e a sua fala é entremeada por depoimentos de seus companheiros de trabalho (Marcel Marceau, Fernando Arrabal, Moebius), por trechos de seus filmes e materiais de arquivo do Teatro Pânico. O entrevistador faz as suas perguntas dividindo-as em blocos temáticos. Mouchet quer saber sobre a experiência de Jodo com a sua primeira manifestação artística, a pantomima. Ele pergunta, Jodo responde e corta para o depoimento de Marcel Marceau, o grande mímico francês e mestre de Jodo nessa arte. Esse procedimento padrão se repetirá ao longo do filme. O esquematismo de "A constelação Jodorowsky" é totalmente coerente com que o filme se propõe a ser. Se o objetivo do documentário é ser um convite à obra de Jodo, ele cumpre muito bem essa função. O filme nitidamente se dirige ao espectador que ainda não tem muito conhecimento sobre o artista. O seu público alvo não é os iniciados ou os admiradores da obra multidisciplinar de Jodorowsky. "A constelação" se assume como uma introdução a Jodorowsky.

Mouchet, ao contrário de Stuart Samuels em "Filmes da meia-noite: da margem ao mainstream", não expressa cinematograficamente a sua adesão ao objeto documentado. Mouchet em relação a Jodorowsky é sério, distanciado e discreto. A sua admiração pelo artista não é evidenciada. A sua abordagem é acima de tudo descritiva e não celebrativa. Não encontramos aqui uma coloração de homenagem e sim um anseio prioritariamente informativo. A grande virada se dá quando Mouchet sai de seu anonimato e aparece em quadro. O documentarista estava atrás das camêras , registrando uma comum sessão de psicogenealogia, quando subitamente Jodo interrompe a palestra e o convida para ser o protagonista da terapia em grupo. Claramente essa participação não estava prevista pelo discreto e sóbrio documentarista. Ele então passa a ser analisado pelo terapeuta Jodorowsky. Tomamos conhecimento de seus conflitos íntimos, de seus problemas familiares e de seus traumas. Em uma seqüência posterior, Jodo lê o tarô para Mouchet. O distanciamento inicial de Mouchet se dilui e ele passa a ser de fato, tragado pelo universo de seu personagem biografado. Mais do que se abrir pessoalmente para o seu documentarista, Jodorowsky fez o seu documentarista se abrir.

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O ardil de Bob Roberts


Em 1992 Tim Robbins fazia sua estréia na direção com "Bob Roberts", filme que disparava contra a onda de reacionarismo que tomou conta dos Estados Unidos nos anos Reagan e Bush pai. Interpretado pelo próprio Robbins, Roberts era um jovem bem apessoado cantor folk, candidato ao Senado americano pela Pensilvânia. Também era um hipócrita, oportunista e mau-caráter de marca maior. Quando o filme foi lançado no Brasil, sua figura foi associada a de Collor, mas ele tem mais a dizer sobre os dias de hoje. A campanha eleitoral de Roberts era baseada na desqualificação moral dos adversários, golpes baixos e na idéia de que, se os Estados Unidos eram a terra da oportunidade, só não prosperava quem não queria nada com o trabalho (aqui dá pra ver uma cena onde ele canta "I'm a bleeding heart" e "Complain"). Mais ou menos como se ouve atualmente por aqui, "que fulano tem um Rolex porque trabalha de sol a sol". Que o diga o camarada que acorda às 4h, pega condução lotada, come de marmita e quando chega em casa ainda tem que aturar uma bosta de novela na TV.

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Sessão da Tarde: "Anhangüera"




O Ministério da Saúde adverte: cachaça dá azia.

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Meia-noite no cinema


Por Estevão Garcia

"Filmes da meia-noite, da margem ao mainstream" (de Stuart Samuels, EUA, 2005) pretende rastrear o fenômeno dos midnight movies por meio da discussão do sistema de exibição dos filmes que iniciaram e consagraram o "movimento". Eles são: "El Topo" (de Alejandro Jodorowsky, México, 1969), "A noite dos mortos vivos" (de George Romero, EUA, 1968), "Pink Flamingos" (de John Waters, EUA, 1972), "The harder they come" (de Perry Henzell, Jamaica, 1972), "The Rocky Horror picture show" (de Jim Sharman, Inglaterra/EUA, 1975) e "Eraserhead" (de David Lynch, EUA, 1977). Apresentando uma estrutura bastante didática, o documentário começa com pequenos trechos de depoimentos nos quais os diretores em questão proferem frases de efeito selecionadas estrategicamente pela edição, para abrir o filme como se ele também fosse uma espécie de manifesto. Após essas frases, vemos uma série de cartazes de filmes contemporâneos como "Kill Bill" e "South Park". Na banda sonora, o narrador anuncia a tese que o filme quer provar e que já estava explícita em seu subtítulo: a absorção dos midnigth movies pelo mainstream. A tese de que os chamados midnight movies foram tragados pela grande indústria não é novidade para ninguém, porém, o documentário, além de concebê-la como uma grande achado, a utiliza para enaltecer os "filmes da meia-noite".

Claramente encontramos aqui um tom celebrativo e de homenagem ao objeto documentado. Stuart Samuels não adota uma postura distanciada ou analítica em relação a esse conjunto de filmes e, sim, o olhar de um fã que os percebe através da cinefilia. A adesão do documentarista frente ao documentado a priori não é um problema em si. Há diferentes estratégias de se relacionar com o objeto escolhido e uma postura distanciada não é, necessariamente, superior que uma afetiva e pessoal. A questão recai em como essas estratégias são trabalhadas e de como elas interferem organicamente no resultado final. No caso de "Filmes da meia-noite", a completa adesão do diretor o faz se movimentar em apenas uma direção. A sua preocupação de legitimar aqueles filmes, de classificá-los somente como revolucionários, rebeldes e subversivos, bloqueia outras abordagens e interpretações.

O fenômeno dos midnight movie se concentra em um determinado conjunto de filmes produzidos entre o final dos anos 60 e o final dos 70, que a princípio teria desafiado a indústria cinematográfica norte-americana. Filmes que foram produzidos à margem de Hollywood. O que caracteriza e destaca os midnight movie vai além do quesito "ser realizado fora do sistema dominante". Na década de 40, com a chegada de vários artistas vanguardistas europeus aos Estados Unidos se iniciou uma sólida tradição de filmes experimentais. Na década de 50, encabeçado por John Cassavetes, um forte movimento de cinema independente se formou. Podemos mencionar ainda a geração do underground americano dos anos 60, que construiu todo um mecanismo de produção e difusão paralelo: Jonas Mekas, Peter Kubelka, Michael Snow, Andy Warhol e Stan Brakhage. Portanto, se declarar fora do esquema industrial e da grande mídia já não era nos EUA daquele momento nenhuma novidade. O que há de novo na onda do midnight movie e que o documentário tratará de enfatizar é a sua forma de exibição. É a sua maneira de se relacionar com o espectador.

Exibir filmes em sessões especiais, fora do circuito exibidor convencional, também já não era nenhuma atitude ultra-original. Quase ao mesmo tempo em que se forjou um mercado cinematográfico hegemônico, surgiu um paralelo alternativo. Os cineclubes existem desde os anos 20 e começaram conjuntamente com a vanguarda européia da mesma década. Se sessões fora do sistema comercial voltada para um público particular não eram novidade, a conversão dessas sessões em rituais, eram de fato uma proposta diferente. Mais do que uma sessão alternativa, a experiência de assistir a um filme à meia-noite era compreendida como um culto. A sala de cinema se transformava em um templo sagrado e o cinema, através das imagens luminosas que emanavam da tela, em uma religião. Uma religião com os seus próprios rituais e a sua própria maneira de se comunicar com o "divino". No caso, o ritual era acender um baseado e cobrir totalmente a sala com uma densa fumaça. Os mesmos filmes eram vistos inúmeras vezes.

Aqui, além da interação espectador-obra ser diferente da usual, o filme como obra não é o mais importante e sim o ato ritualístico de o assisti-lo. Portanto, estamos em um âmbito em que os termos midnight movie e cult movie se confundem. Para o público que os consome e que se dirige a eles por esse viés, os termos são sinônimos. "Filmes da meia-noite" se concentra em especular como esses filmes eram vistos e difundidos, o que reitera que a suposta originalidade dos midnight movies naquele especifico momento histórico está a cima de tudo no seu esquema de exibição. Apenas no final do documentário, através de uma pequena fala de um dos críticos de cinema entrevistados que ouvimos uma declaração sobre a diferença estética entre esses filmes. O crítico se pergunta qual seria a semelhança formal/estética entre um "El Topo" e um "A noite dos mortos-vivos", por exemplo. Percebemos que as características estéticas que unem esses seis filmes considerados como os pais do midnight movie são superficiais. Os filmes da meia-noite teriam que ter: violência, bizarrices, escatologia, humor negro, ironia, sexo e, além disso, todos esses elementos precisariam ser registrados de uma forma não encontrada no cinema convencional. Um dos entrevistados afirma que não se pode dirigir conscientemente um midnight/cult movie, é o público que o classifica como tal. Logo, nos momentos em que o documentário trilha por esse caminho, o de sublinhar o midnight movie como uma renovada forma de interação com o espectador, ele realiza uma razoável reflexão sobre a recepção cinematográfica. Quando toma a atitude de celebrar com ares de nostalgia tipo "aqueles bons tempos não voltam mais" o filme perde seu interesse e adquire um tom de ode ao passado.

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terça-feira, 20 de novembro de 2007

No Beco do Rato


O Cineclube Beco do Rato exibe amanhã "Olhar estrangeiro", filme de Lúcia Murat que questiona a forma com que o cinema internacional retrata o Brasil. A entrada é franca e os trabalhos começam às 20h, com música e cerveja. O Beco do Rato fica na Rua Morais e Vale, entre a Avenida Augusto Severo e Rua da Lapa.

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Último giro


Edu Feijó faz hoje, às 20h, no Teatro Municipal do Jockey, o último show de lançamento de seu primeiro disco, "Gira". O músico, que compôs "A fala da paixão" em parceria com Egberto Gismonti, sobe ao palco acompanhado de Cléo Boechat (teclado), Alexandre Vaz (guitarra), Élcio Cáfaro (bateria), Augusto Mattoso (baixo) e Alexandre Caldi (saxofone). O ingresso custa R$ 20.

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Amor entre iguais


A "Veja" e as Organizações Globo, que até pouco tempo viviam às turras, hoje curtem um lindo caso de amor. Basta algum programa da Globo naufragar no Ibope para a revista vir em seu auxílio. Outro dia, tachou Aguinaldo Silva de gênio da raça, quando o novelista escreveu em seu blog pérolas do pensamento mundial do gênero "no Brasil só não compra Rolex quem é vagabundo e não quer trabalhar". E aproveitou para falar de sua novela, um fracasso retumbante. Na edição desta semana, eles saem em socorro do seriado "Toma lá, dá cá", que patina em audiência medíocre. O curioso é que dessa vez não há nem uma frase infeliz que justifique a reportagem. É coisa do coração mesmo. O amor é uma flor roxa que nasce no coração do trouxa. Feito de trouxa, no caso, foi o leitor da revista.

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Consciência


Todo 20 de novembro a história se repete: a mesma turma bota a boca no trombone para reclamar que o Brasil tem feriado demais. O curioso é que ninguém dessa turma reclamou quando recentemente fizeram do 12 de outubro, dia de Nossa Senhora de Aparecida, feriado também. Ninguém aqui quer chutar a santa, mas o Brasil não é um país laico? Quem não é católico é obrigado a engolir o Natal; são dezenas de feriados religiosos e nem um pio. Sem contar a farsa do 7 de setembro. Mas bastou falar em Dia da Consciência Negra e em Zumbi para a grita começar. O motivo é só um, não se enganem: racismo. É como se esse pessoal quisesse dizer: "negro não tem que se conscientizar de nada, tem é que trabalhar".

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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Jodorowsky no CCBB



Começa amanhã e vai até o dia 2 de dezembro no CCBB-RJ a retrospectiva completa do cineasta, escritor, ator, mímico, músico, filósofo, dramaturgo, mestre dos quadrinhos, diretor de teatro e especialista em tarô Alejandro Jodorowsky. Entre outras preciosidades a mostra vai exibir o raríssimo curta "A gravata", os seus seis longas-metragens, incluindo os inéditos no Brasil "Tusk" e "O ladrão do arco-íris"; documentários sobre a vida e a obra do diretor como "Constelación Jodorowsky" (de Louis Mouchet, 1994) e "Filmes da meia-noite: da margem ao mainstream" (de Stuart Samuels, 2005) e filmes que dialogam com a sua estética, como "Cabezas cortadas" (de Glauber Rocha, 1970). Além de nos convidar através da exibição desses filmes a uma viagem ao universo artístico do autor da obra prima "La montaña sagrada", a mostra ainda proporcionará a primeira visita do diretor ao Brasil. Jodorowsky realizará ao longo do evento três conferências, cada uma ligada às suas três atividades principiais: quadrinhos, cinema e tarô. O diretor vai autografar, em noite especial (dia 26 de novembro, apenas para convidados), seus livros publicados no Brasil: "Quando Teresa brigou com Deus" (Editora Planeta), "Os Bórgia" (Editora Conrad, HQ ilustrado por Manara, roteirizado por Jodorowsky), "Incal" (Editora Devir, ilustrada por Moebius e roteirizado por Jodorowsky). Nessa mesma noite será lançado o álbum "Antes do Incal", roteirizado por Jodorowsky e inédito no país. Nos dias 27, 28 e 29 ele conversa com o público em geral. No saguão do CCBB também poderemos ver uma exposição iconográfica onde serão expostas fotografias do acervo pessoal do autor, sua família, fotos de bastidores, still e cartazes de seus filmes, trechos de história em quadrinhos, páginas de roteiros, cartas de tarô e manuscritos. Confira a programação completa aqui. A partir de amanhã a Zé Pereira vai fazer a cobertura do Festival Jodorowsky.
Nos encontramos então lá no CCBB e aqui.

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DJ Cuenca


Hoje tem Noite Mastroianni no Cinematheque Jam Club (Rua Voluntários da Pátria, 53, Botafogo), com discotecagem do escritor João Paulo Cuenca (colaborador da Zé Pereira e autor do estupefaciente "O Dia Mastroianni") e Dj Kowalski, a partir das 22:30h. Os rapazes prometem uma noite de "rock elegante e outras canastrices", além de um Martíni com preço especial. A entrada custa R$ 10.

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Betoneira capixaba


O acepipe acima pesa quase um quilo e atende pelo singelo nome de Saboroso. A iguaria leva hamburguer de carne, bife, peito de frango, presunto, ovo frito, bacon, linguiça, batata palha, petit pois, milho e maionese caseira, servidos em pão de cenoura (sic). Segundo o gourmet João Moares o sandubão é "uma explosão de sensações".

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Um Che Guevara ainda incomoda muita gente


A "Veja" deixou de fazer jornalismo há muito tempo; mas vale a pena acompanhar a polêmica envolvendo o repórter da "New Yorker" e biógrafo de Che Jon Lee Anderson, o repórter da revista da Abril Diogo Schelp, o seja lá o que for Reinaldo Azevedo e o jornalista Pedro Doria, no blog do último.

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domingo, 18 de novembro de 2007

Rock é rock mesmo



Por Eduardo Souza Lima

Balada é música lenta; noitada no Espírito Santo é rock. E a noite de encerramento do Vitória Cine Vídeo, que aconteceu ontem, foi rock de primeira. A começar pela premiação, que consagrou dois dos mais interessantes curtas desta safra, que fizeram boa carreira nos festivais de 2006/2007: "O homem-livro, de Anna Azevedo, que levou o prêmio de melhor documentário, e "Noite de sexta manhã de sábado", de Kleber Mendonça Filho, o de melhor ficção. São os melhores filmes de seus realizadores (foto) que vêm construindo uma carreira sólida e, por acaso, são minha mulher e um grande amigo. A crítica redimiu-se do ano passado, quando premiou o fraco "A balada das duas mocinhas de Botafogo", dando o Marlin Azul para o provocador "Igrrev - Igreja Revolucionária dos Corações Amargurados", de Carlos Magno Rodrigues. Outro belo filme que saiu premiado foi "Tori", que ganhou o Marlin Azul de melhor roteiro. A premiação comleta pode ser conferida no site do evento.
A noite entrou madrugada adentro com mais um inesquecível show do Zémaria - o grupo que faz a música mais moderna do Brasil na atualidade - com uma participação para lá de especial: Rita Cadillac. E, sim, eu beijei a bunda da musa.

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sábado, 17 de novembro de 2007

A festa do curta


Por Eduardo Souza Lima

O Vitória Cine Vídeo é o paraíso do curta-metragista: aqui ele é tratado como gente grande. O festival termina hoje, com a cerimônia de premiação seguida de festa com direito show do Zémaria. O ponto alto do evento foi a homenagem à comediante centenária Dercy Gonçalves, apresentada por ninguém menos do que Rita Cadillac. Entre as pérolas proferidas por Dercy, está "não existe palavrão, buceta e caralho são apelidos". Como o Vitória Cine Vídeo é um dos últimos do ano, boa parte dos filmes exibidos aqui já passou em outros eventos. Ainda assim, as duas últimas sessões apresentaram boas surpresas como "Tori", de Andréa Midori Simão e Quelany Vicente; "Táxi para devaneio", de Ansgar Ahlers, Dirk Manthey e Eder Augusto; e, prncipalmente, o provocador "Igrrev - Igreja Revolucionária dos Corações Amargurados" (foto), de Carlos Magno Rodrigues. O filme é um documentário de estética fascista que trata do fenômeno das religiões neopetancostais. Para realizá-lo, o diretor criou uma falsa igreja que atraiu incautos de um bairro pobre de Belo Horizonte. É um filme bem diferente do que estamos acostumados a ver, goste-se ou não dele.

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sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O sertão visto por uma criança




Por Estevão Garcia

Entramos no universo ficcional proposto por "Mutum" (de Sandra Kogut,Brasil, 2006) através do olhar de seu pequeno protagonista Thiago (Thiago da Silva Marins). Tudo o que vemos, vemos pelo intermédio de seus olhos. Tudo o que compreendemos daquele contexto familiar e daquela ambiência, compreendemos através da percepção que o menino tem do mundo dos adultos. Aqui, a percepção do protagonista infantil se confunde com a do espectador. O que está nebuloso e pouco explicado para ele, também está para nós. Se o menino não consegue entender com precisão porque o seu querido tio teve sair de casa ou porque ele não se dá com o seu pai, igualmente não entendemos. E qual seria a relação de seu tio com a sua mãe, seriam eles amantes? Compartilhamos com Thiago a sua ignorância.

A câmera o capta com imenso carinho e ternura. Cabe ressaltar que, tanto Thiago da Silva Marins quanto os demais não-atores mirins, estão excelentes. Dirigidos pela preparadora de elenco Fátima Toledo, principal profissional da área no cinema brasileiro recente, as crianças são a grande força do filme. O carisma de Thiago somado ao direcionamento realizado pelo seu corpo e expressões é um dos elementos centrais de “Mutum”. O uso de seu olhar e de sua fisicalidade foram coordenados cuidadosamente. A sua colocação no foco principal da narrativa não sufoca e deixa espaço para o desenvolvimento sutil de outros olhares, principalmente os de seus irmãos.

Cuidado é a palavra-chave para definirmos a direção de Sandra Kogut em seu primeiro longa de ficção. Cuidado é um procedimento racional e nele estão embutidos pitadas de contenção, preocupação e cautela. A realizadora é extremamente preocupada na construção psicológica de seus personagens, não os quer fechados ou tipificados por conta de seu receio em cair no maniqueísmo. O sertão que Sandra quer retratar, inspirado em Guimarães Rosa, não flerta com o típico e com o catalogado. Não acaricia o exotismo, mas também não exagera em tintas naturalistas. A tragédia, ou melhor, o melodrama, é cautelosamente evitado. A morte de Felipe (Wallison Felipe Leal Barroso), situação melodramática por natureza, é arquitetada de maneira econômica. A emoção que "Mutum" constrói é sem grandes arroubos, não visa em fazer o espectador soluçar ou assoar o nariz. A estratégia de apertar o freio no melodrama não faz de "Mutum" um filme melhor ou pior, apenas se configura como mais um de uma série de receios da diretora. Esses receios sim limitam um filme que é feito mais a partir do que "não quer" do que "quer" ser. Podam o andamento, a fruição e interferem em seu resultado final.

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Alice ainda mora aqui



Por Estevão Garcia

Primeiro longa-metragem do documentarista Chico Teixeira, "A casa de Alice" inicia-se exalando um nítido desejo de ser uma crônica ou apenas um recorte no cotidiano de uma comum mulher de classe média. O sentido de recorte é evidente porque o filme até a sua primeira metade está mais interessado em esboçar um específico painel cujo eixo central recai em Alice do que propriamente desenvolver uma trama ou estabelecer uma intriga. O que vemos é a captação do dia a dia de uma simples família de classe média paulistana, a descrição das relações entre os seus componentes e os sentimentos, rancores e frustrações que dali aflora. Como já nos foi sugerido pelo seu sintético e direto título, "A casa de Alice" constrói sua narrativa a partir desses dois elementos inseparáveis: Alice e seu lar. A casa, apesar de ser habitada por mais cinco pessoas (a sua mãe, o marido e três filhos) é sobretudo de Alice. Tal afirmação não se baseia apenas na informação de que a protagonista é de fato a provedora do lar, a única que "coloca dinheiro em casa". O motivo que a designa como a autêntica detentora da posse daquela residência é a sua posição ocupada no interior do corpo familiar. Posse, dizemos aqui, mais no sentido simbólico do que material.

Simbolicamente, tudo o que acontece naquele determinado espaço apresenta Alice, a figura da Mãe, como centro organizador. A câmera de Chico Texeira é colada em seu corpo e procura captar cada expressão, cada sorriso e cada gestual. A aparência solta e livre de simplesmente registrar um trecho da vida da protagonista sem a obrigação de se contar uma estória logo se dissolve. Ao acabar a introdução e de já deixar bem construídos o palco e os agentes da narrativa o filme ainda permanece com esse ar documental, fruto da formação do realizador, por alguns momentos. Porém, logo "A casa de Alice" se vê obrigado em compensar o que antes foi descrito com liberdade. Por exemplo: a insinuação feita na primeira parte que Lindomar tinha uma amante adolescente e que ela era justamente a menina confidente de Alice se resolve de maneira frouxa e jogada na segunda. Tudo começa com o diálogo entre Lucas e Júnior sobre a veracidade da escapada de cerca do pai. Na sequência seguinte Alice descobre isso sozinha ao comparar o cheiro da roupa do marido com a Marca do perfume que tinha dado à garota. Corta, Alice está na cozinha com a mãe e aparece a ninfeta para mais uma visita. A mulher traída abre a porta e a recebe a base de bolachas e xingamentos. Relações de causa e efeito como essas são mal trabalhadas, são dispostas sem respiro e ritmo. A explosão de fúria de Alice no momento em que assiste uma briga em casa e a repentina morte de sua cliente / esposa de seu amante também seriam mais alguns exemplos dessa deficiente distribuição de informações.

"A casa de Alice" aparenta ser menos dois filmes em um do que duas propostas agrupadas em um único filme. Essas duas propostas se chocam, são conflitantes. Elementos chave do contexto familiar como a relação incestuosa de Alice com Júnior é apenas sugerida sem que essa sugestão tivesse alguma importância ou relevância. Não seria estritamente necessário o desenvolvimento dessa relação, ela poderia permanecer no ar, em aberto, sem problema algum se o filme continuasse com a sua textura inicial. Porém, em sua segunda parte, "A casa de Alice" quer mais contar do que mostrar. E em sua conclusão ele aparenta desejar operar um retorno à estratégia do começo. Não há conclusão ou finais fechados, a armação volta a ser "frouxa" e não encadeada. Dona Jacira caminha pelo asilo lentamente ouvindo um rádio de pilha. Alice está segurando a mala de sua falsa viagem, tentando ligar para o amante que não quer atender ao telefone. Tudo volta a ser um recorte, uma moldura específica de um processo maior.

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quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Premiação Etnográfica


Por Estevão Garcia

Na noite de ontem aconteceu a premiação da 12ª Mostra Internacional do Filme Etnográfico, no Arte Sesc. O auditório estava repleto de convidados e participantes do evento e nós da Zé Pereira, como sempre, também estivemos por lá para distribuir revistas e para cobrir. Os prêmios são oferecidos por três instituições parceiras do Festival, a saber: o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular(IPHAN), com o Prêmio Manuel Diegues dividido em três categorias; a Organização Católica Internacional de Cinema (OCIC), com o Prêmio Jangada para o documentário brasileiro; e a Associação Brasiliera de Documentaristas e Curta-metragistas do Rio de Janeiro (ABDeC). As três instituições constutuíram jurados próprios e fizeram suas escolhas dentro dos critérios envolvendo suas áreas de atuação.
Os premiados:

Prêmio Manuel Diegues Júnior

Categoria Importância do tema para a área: "Estratégia Xavante" (de Belisário Franca)
Menção honrosa: "L.A.P.A" (de Emilio Domingues e Cavi Borges)

Categoria Desenvolvimento, pesquisa e roteiro: "Entoados" (de Jason Barroso Santa Rosa e Rodolfo Magalhães)
Menção honrosa: "O coco, a roda, o pneu e o farol" (de Mariana Brennand Fortes)

Categoria Concepção realização: "Camâra viajante" (de Joe Pimentel)
Menção honrosa: "Pirinop, meu primeiro contato" (de Mari Corrêa e Karané Ikpeng)

Prêmio Jangada para documentário brasileiro

"O profeta das águas" (de Leopoldo Nunes)
Menção honrosa: "Zabumba" (de Marcelo Rabelo)

Prêmio ABDeC

"Oficina Perdiz" (de Marcelo Diaz)
Menção honrosa: "Em (si) mesma" (de Andréa Barbosa)
Menção honrosa: "O campim" (de Jefferson Oliveira e Eduardo Dornelles)

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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Feijoada vacinada


Amanhã, a partir das 13h, tem a Feijoada Musical do Cordão do Prata Preta, em comemoração ao segundo aniversário da agremiação, no Centro Cultural José Bonifácio (Rua Pedro Ernesto, 80, Gamboa). O Cordão está revitalizando o carnaval de rua da zona portuária e seu nome é uma homenagem ao líder da Revolta da Vacina, Horácio José da Silva, o Prata Preta. Além da feijoada, vai haver a apresentação do samba e de marchinhas para o carnaval de 2008. A entrada é franca e o feijão sai a R$ 10 (compras antecipadas pelo telefone 2283-3660). A charge acima, sobre a Revolta da Vacina, foi feita por Leônidas e publicada na revista "O Malho".

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Vitóóóóóória! Vitóóóóóória-a!




Quem já participou há de confirmar: o Vitória Cine Vídeo, que começou na segunda e termina no sábado, é o festival mais legal do Brasil. Não é brincadeira não, lá você é tratado como um rei. E a programação é de primeira e as oficinas, idem - ano passado teve uma de trilha sonora com o André Abujamra. Para melhorar, este ano também vai ter show do Zémaria (assistam acima ao videoclipe de "Vermelha") no encerramento. A partir de amanhã a genta manda notícias de lá. Vai ser a primeira cobertura interestadual da Zé Pereira.

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Liberdade para Jesus


Por Eduardo Souza Lima

O Festival Internacional de Televisão chega à sua terceira edição trazendo ao Rio 300 programas - de mais de 40 países - inéditos no Brasil. Como se sabe, a TV como conhecemos é um troço obsoleto que será extinto daqui a pouco - para os meus sobrinhos adolescentes tem tanta serventia quanto um disco de vinil -, mas o evento é uma boa oportunidade para se falar de liberdade de expressão. No programa Mostra de Pilotos vão ser exibidos "Zoando o barraco" e "Regulando a mesada", os primeiros episódios da série "Deus é pai", da Toscographics, baseados no curta premiado de Allan Sieber - no site da produtora dá para assistir aos dois. Os desenhos chegaram a passar na MTV em 2000, mas a emissora botou o rabinho entre as pernas e cancelou a série depois que um aspone do Dom Eugênio Salles chiou. A Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro já se arvorou dona da imagem do Cristo Redentor - estátua que foi construída com a grana do povo carioca - e acha que tem direitos sobre personagens que caíram em domínio público faz um tempão. Os caras só dão tiro no pé: chegaram a pedir a interdição do "Dogma" do Kevin Smith, o filme mais católico que eu já vi, que, inclusive - olha o testemunho! -, me fez recuperar a fé. Como Deus escreve certo por linhas tortas, deve haver algum plano que justifique Ele aturar esses manés como seus representantes na Terra.
O Festival Internacional de Televisão começa depois de amanhã e vai até o dia 24. As sessões, workshops e palestras vão ser no Oi Futuro, no Estação Botafogo e no Arte Sesc. A programação completa está no site do evento.

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terça-feira, 13 de novembro de 2007

"Tropa de elite" para quem precisa


Falando do filme propriamente dito, hoje rolou uma novidade: ele já é a produção brasileira mais vista nos cinemas este ano. Com 2,040 milhões de espectadores, ele superou "A grande família – Me engana que é um filme que eu gosto", que teve 2,031 milhões.
E já que o assunto é seriado de TV, publicamos abaixo um artigo do leitor Luiz Carlos Lucena, que é jornalista e roteirista, professor de produção de vídeo na Universidade São Marcos (São Paulo). Como bem lembra Lucena em sua carta, e como bem lembrou o crítico Inácio Araújo em seu blog, falou-se mais do filme nas páginas policiais do que nos suplementos de cultura.



"Tropa de elite" e os seriados americanos

Mais que cooptar o público que torce pelo policial-torturador-herói, e a crítica para uma visão do filme como obra "fascista", "Tropa de elite" traz para a cinematografia brasileira o pior do cinema hegemônico norte-americano

Na enxurrada de críticas e comentários sobre Tropa de Elite, o tom dominante foi a discussão do papel do policial-herói, na visão do público, e se o filme é ou não um filme fascista, visão de público e crítica. Uma das poucas considerações com sentido veio de Luiz Eduardo Soares, secretário da Valorização da Vida e Prevenção da Violência do município de Nova Iguaçu, professor da UFRJ e ex-secretário da segurança pública do Rio de Janeiro. Soares já havia exposto o papel de isolamento e carência do menino de rua em "Ônibus 174" (eles querem apenas visibilidade, disse).

Agora acerta ao comentar "Tropa de elite": quem aplaudiu não foi convencido pelo filme, "eles se identificaram com personagem que encarnam seus valores e expressam suas emoções... reagem como se estivessem diante de uma assimetria, que exigisse sucessivos movimentos de reacomodação" (1). Ou seja, fascista é o público!
O ex-secretário – que também é um dos autores do livro que deu origem ao filme – faz uma crítica e mea culpa para a abordagem do filme que mobilizou o imaginário coletivo: "nele o que se ostenta é forte, o que se oculta mais ainda". Aqui, indiretamente, Soares está criticando o processo de representação simbólica presente no filme, que opõe apenas traficantes e bandidos para no final colocá-los no mesmo lugar (não existe diferença entre polícia e bandido) e esquece o entorno, o povo, a favela como um espaço maior de produção de significados. Critica o narrador onipresente – o dono da voz segundo Jean Claude Bernadet (2) – que dá ao filme uma visão autoritária, unilateral.

"Tropa de elite", mais que colocar limites ao reelaborar a produção simbólica rica e diversa da favela, com as imagens redundantes do baile funk, de traficantes armados e policiais subindo ao morro, traz para a produção brasileira o que a cinematografia hegemônica norte-americanos tem de excessivo. O filme adota os mesmos procedimentos técnicos e de linguagem dos filmes que invadem a TV nos trillers e seriados policiais – o plano seqüência feito com câmera na mão, os fatos narrados pelo olho do fotógrafo montados a priori, sem os cortes que caracterizam o cinema brasileiro. O plano sequência que o documentarista Jorge Sanjines, figura expoente da cinematografia latino-americana junto com Glauber e Fernando Birri, usa como marca.

O cineasta boliviano acredita que para representar o povo através do personagem coletivo, e para ele ser mostrado em sua totalidade, o recurso mais apropriado é o plano seqüência, que tira do diretor de certa maneira a autoridade que este constrói com a planificação tradicional do plano médio, do primeiro plano, do close utilizado por Griffith ou do fotograma de Eisentein que procuram criar emoção. O plano seqüência, para Sanjines, abre para a participação coletiva, permite explorar livremente a participação dos atores, personagens que são das próprias comunidades. Os acontecimentos e diálogos são filmados em uma única tomada em plano geral. O campo simbólico ganha expressividade maior, portanto.

Mas não é o que fazem os americanos que "empacotam" o plano seqüência em suas produções baratas e que José Padilha usa em "Tropa", tendo como recurso de apoio uma iluminação naturalista que acompanha a câmera, próxima do real, segundo o diretor, que queria fazer um documentário e terminou com uma ficção documental. O filme não inova, portanto, na verdade é uma cópia do que se faz todas as semanas nas ruas de São Francisco e Nova York, mas traz a modernidade para o cinema de seqüências com muitos planos e cortes que o Brasil adota como norma.

Outra característica que aproxima "Tropa de elite" dos seriados norte-americanos é a forma de abordagem de um tema presente em grande parte dos filmes de sucesso brasileiros dos últimos anos - a favela, a policia e os traficantes, que já apareciam nos filmes que precederam o Cinema Novo ("Rio 40 graus", "Cinco vezes favela") e ganharam contornos atuais com "Noticias de uma guerra particular", de João Moreira Salles, "Cidade de Deus", "Favela rising" e "Ônibus 174". Não sem sentido Bráulio Mantovani repete no roteiro o que já fez e que de certa maneira é uma fórmula que deu certo em "Cidade de Deus" – o narrador off e o ponto de vista circular de personagens para fazer a narrativa. Mas faz o pastiche dos norte-americanos na colocação dos temas que já vimos em dezenas de filmes – o policial em crise conjugal e crise de consciência, o chefe corrupto, o aprendizado do aspirante, que Samuel L. Jackson exacerba e John Travolta vai investigar em "Basic", e já vimos com outros atores conhecidos.

Não é uma crítica, mais uma constatação dos caminhos abertos por "Cidade de Deus" que repercutem no cinema atual. O cinema à procura da bilheteria tenta ir aonde o povo quer, e a dramaturgia da violência continua marcando pontos no ibope das bilheterias.

"Tropa de elite" tem que ser visto por esse prisma, além é claro dos aspectos que movimentam a mídia citados acima. Mas antes de tudo é uma mostra de um cinema brasileiro comercial que quer conquistar espaço – e esqueçam aqui os postulados nacionalistas de Glauber e do Cinema Novo. Cinema é diversão, entretenimento. Mesmo que sob tiroteios e tortura.

1 – "Filme perturba até os 'caveiras' de carteirinha", "O Estado de S. Paulo", 07/10/2007
2 - BERNADET, Jean-Claude – "Cineastas e imagens do povo", Companhia das Letras, São Paulo, 2003

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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Copacabana sem figuração


Por Estevão Garcia

A revista Zé Pereira visitou o set de filmagem de "Elvis e Madona", primeiro longa-metragem do curta-metragista Marcelo Laffitte (na foto acima, com a atriz Simone Spoladore). O filme nos conta a história de amor entre uma jovem lésbica e um travesti experiente. Ela, trabalha como motogirl de uma pizzaria, mas sonha em ser foto jornalista. Ele, ganha a vida como cabeleireira em um salão de beleza, mas sonha em ser um grande artista. Ambos vivem e trabalham em Copacabana, bairro-símbolo do Rio de Janeiro, que já serviu de palco e cenário para muitos filmes brasileiros. "Copacabana me engana" (de Antonio Carlos da Fontoura), "Copacabana mon amour" (de Rogério Sganzerla, 1970) e "Fulaninha" (de Davi Neves, 1986) são alguns exemplos. Se converter Copacabana em fotogramas não é nenhuma novidade em nosso cinema, a maneira com que "Elvis e Madona" registra o famoso bairro é, segundo Laffitte, um grande diferencial.
— Eu estou pegando uma câmera, botando ela no ombro e entrando em Copacabana. Os meus planos têm muitos carros, tem muita gente, a vida de Copacabana está toda ali.
Segundo o diretor, natural de Volta Redonda, o seu olhar sobre o bairro é essencialmente externo:
— Vir ao Rio de Janeiro era pra mim sempre motivo de festa.
O deslumbramento que sentia ao visitar o Rio na infância era propiciado principalmente pelo visual das praias de Copacabana. Depois com o passar dos anos, o foco de seu interesse mudou. Já não era mais as belezas naturais do Rio que o motivavam a pegar um ônibus em Volta Redonda e, sim, o cinema.
— Me lembro que um dia fui ao Rio só para assistir ao "Apocalipse now" e vi quatro sessões seguidas.
Voltando ao Rio, anos mais tarde para estudar, acabou indo morar em Copacabana. Mesmo tendo conhecido e vivenciado o cotidiano do bairro, Laffitte ainda se pergunta:
— O que é Copacabana? São os porteiros da Paraíba, são os camelôs que moram no morro, são os bombeiros, mecânicos, eletricistas que moram no subúrbio. Copacabana é o tempo todo inchada de gente, é um universo, tem de tudo ali e eu sou parte desse universo.
Compreendendo que Copacabana é em sua grande maioria feito e sentido por pessoas de fora, que não nasceram ou cresceram lá e até mesmo por gente que nem mora, mas que vai ao bairro todo dia para trabalhar, Laffitte não vê muita diferença entre um olhar externo ou interno. Copacabana segundo seu ponto de vista é de todos, sem discriminação. Ao assistir o material bruto do que já filmou do bairro, Laffitte afirma:
— Me desculpem aqui os meus amigos diretores que já filmaram em Copacabana, mas eu estou conseguindo até então os melhores resultados que eu já vi.
Para ele, o medo compartilhado por grande parte dos realizadores de entrar em Copacabana seria o principal motivo para a maneira pouco criativa com que o bairro é registrado:
— Você assiste a um filme todo rodado em Copacabana e percebe que nas ruas não tem gente. A produção mandou fechar o campo e só colocou dois figurantes.
Se para o diretor o cinema brasileiro praticamente filma Copacabana da mesma forma, a TV Globo pelo menos prestou um serviço aos cineastas ao gravar as suas telenovelas por lá.
— Agora você filma em Copacabana e ninguém liga. As pessoas falam "ah é novela!" e vão embora. Ninguém para mais para ver as filmagens.
A diferença no retrato de Copacabana não é a única originalidade de "Elvis e Madona" defendida pelos envolvidos no projeto. Igor Cotrim, o ator que interpreta o travesti Madona sublinha o fato de que no cinema brasileiro raramente encontramos um travesti como personagem protagonista.
— Geralmente nos filmes os travestis aparecem mais para alívio cômico, ou em uma cena isolada que nem no "Carandiru" (de Hector Babenco, 2003) que é só pra ilustrar como é difícil a situação do lugar ou então para ser o assassino ou para morrer, ou para os dois juntos.
Perguntado sobre o contexto em que seu personagem está inserido, Cotrin diz que diferentemente de "Rainha Diaba" (de Antonio Carlos da Fontoura, 1974) ou "Madame Satã" ( de Karim Aïnouz, 2002), onde o enfoque cai no submundo, "Elvis e Madona" é um filme muito mais leve.
— O filme é uma comédia romântica, mas também tem seus momentos barra pesada. Tipo, o cafetão no começo do filme espanca a Madona e rouba todo o dinheiro que ela tinha.
Como Cotrim, a atriz Simone Spoladore, que interpreta a Elvis, também parece estar bem afinada à proposta de Laffitte. Para os três, o maior desafio do filme é fazer com que a história de amor entre uma lésbica e um travesti seja crível para o espectador.
— É a partir dessa preocupação que se construiu todo o processo de composição do meu personagem — diz Cotrim.
Já Simone Spoladore conta que o fato de ter assistido a vários filmes do Elvis Presley a ajudou bastante. O estudo da forma de interpretação do ator/cantor ídolo de seu personagem a fez chegar ao tom ideal. Para a atriz, a característica principal de Presley é exatamente o seu lado doce, meigo e feminino. Analisando a porção feminina de um homem másculo e viril, a atriz encontrou o caminho para matizar as posturas e os movimentos da lésbica Elvis. Fugir do estereótipo e da caricatura na composição dos personagens se tornou um objetivo fundamental e o pré-requisito básico para a construção da veracidade dessa história de amor.
— Tem o lado extravagante, exagerado e debochado que não pode deixar de ter porque isso é uma marca do universo dos travestis, mas toda essa parte exagerada tem que casar com a descoberta do amor realizada entre os dois protagonistas — diz Cotrim.

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